segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

JORGE ARAGÃO

O clássico da avenida

Aragão: estilo reafirmado

Por Julio Cesar Cardoso de Barros

Nem só de samba-enredo vive o Carnaval carioca. Quando o Bloco do Pagodão pisar op asfalto da Marquês de Sapucaí, aquecendo as arquibancadas para o desfile das escolas de samba, o povo cantará uma seleção de sambas de terreiro de seus melhores compositores. Entre eles, uma presença obrigatória é Jorge Aragão, que acaba de lançar Acena, seu sétimo álbum.


Acena: sétimo álbum de Jorge Aragão

Responsável por sucessos como Coisinha do Pai e Vou Festejar, que embalaram desfiles do Cacique de Ramos e explodiram na voz de Beth Carvalho nos carnavais do final dos anos 70, Aragão é um dos fundadores do grupo fundo de Quintal. Apesar do sucesso com o ritmo de rua, seu forte são os sambas que falam das coisas do coração, como Malandro, sucesso na voz de Alcione, Papel de Pão (1990), Alvará (1992) e Marcas no Leito, com o parceiro Sombrinha. No CDAcena o compositor reafirma seu estilo personalíssimo. Como um Rei é um samba forte de letra despretensiosa. Falsas Razões tem o traço marcante de seus versos amorosos.
Embora suas músicas sejam o maior libelo em favor do samba, Aragão ainda quer dar toque nas consciências. É o que ocorre na nacionalista Casa Colonial (É geral/ A impressão de desolação/ Dessa casa colonial/ A lixeira cultural/ Filial do Tio Sam). Se em Coisa de Pele (1986) cantava eufórico “Sabemos agora/ Nem tudo que é bom vem de fora”, hoje ele se mostra preocupado com o jabaculê. “O samba/ Que era só de gente bamba/ Agora/ É dólar dentro da caçamba”, denuncia em Brava Gente Bamba. Sem jabá nem divulgação, o bom samba de Jorge Aragão sucumbe sob a avalanche do pagode de laboratório e as infinitas variações descartáveis de dance music. Reverenciado pela nova geração de sambistas, ele toca nos guetos do samba e vende num nicho muito específico do mercado. É por essas e outras que na faixa O Brasil Precisa Balançar, um samba delicioso de Roberto Menescau e Paulo César Pinheiro, os autores perguntam, entre perplexos e irônicos: “Se  o samba é bom/Por que é que ninguém quer sambar?”.

VEJA/8/2/1995.

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