segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

NEI LOPES

Canto Negro

O compositor Nei Lopes homenageia Zumbi


Por Julio Cesar Cardoso de Barros

Nunca o nível do que vai pelas ondas radiofônicas caboclas foi tão indigente. É nesse contexto que o compositor carioca Nei Lopes ousa lançar o ótimo Zumbi 300 Anos — Canto Banto, um CD que mistura ritmos quase desaparecidos ou esparsamente cultivados no território nacional, como o samba-de-roda, o jongo e o maracatu, ou mesmo fora dele, como o merengue. Com essa valentia, escapa da mesmice e mostra ser um virtuose em vários gêneros diferentes.
Aos 53 anos de idade, Lopes é autor de sucessos como Senhora Liberdade, Gostoso Veneno e Só Chora Quem Ama, gravados por cantores do porte de Roberto Ribeiro, Alcione, Beth Carvalho e Clara Nunes. No disco que chega às lojas, destacam-se o maracatu pernambucano, estilizado na dançante Maracatumba, e o merengue Afrolatinô, um mergulho nas Antilhas negras. Mas o forte é o samba, que aparece no balançado Samba, Iaiá e no enredo Epopéia de Zumbi.
Nei é um compositor que tem voz agradável. Os arranjos são enxutos neste disco, que vale pela qualidade das composições e pela variedade de ritmos, num momento em que os consumidores de música pensam que raiz cultural é algum tipo de mandioca desenvolvido em laboratório.

VEJA, 27/03/1996. 

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