segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Rosas de Ouro na avenida

Ellen Rocche: rainha da bateria da azul e rosa (Foto de Evelson de Freitas/AE)
A Escola de Samba Rosas de Ouro comemora seu aniversário de fundação no dia 22 de outubro, com uma grande festa em sua quadra da Freguesia do Ó. Uma flor de ouro reluzente, representando a majestade de Cristo, instituída pelo papa Gregório II em 730 D.C. e confeccionada por artesãos abençoados pelo sumo pontífice, é a fonte de inspiração para o nome da Escola, que completa 44 anos de existência este ano.
Fundada em 1971 por um grupo de sambistas liderados pelo advogado Eduardo Basílio, entre eles José Luciano Tomás da Silva, João Roque e José Benedito da Silva, a agremiação da Zona Norte começou seus ensaios na quadra instalada num pequeno terreno localizado numa rua escondida da Vila Brasilândia. Rua que logo ganhou o nome da agremiação. Ali, Basílio formou um time inicial muito forte, que juntou o potencial da gente local com a experiência de sambistas que foi buscar em outras agremiações, com destaque para o diretor de bateria Gilberto Bonga e o mestre-sala Manézinho – o melhor que São Paulo conheceu, aluno de Delegado da Mangueira e professor de grande número de bailarinos do asfalto que o sucederam. Bonga e Manézinho eram estrelas da Unidos do Peruche, onde Basílio foi buscar também uma Ala das Baianas. Da escola Morro da Casa Verde trouxe Zeca, compositor de grandes sambas da folia paulistana e astro de shows escritos, produzidos de dirigidos por Plínio Marcos. Edmundo e Ernani Basílio, irmãos de Eduardo, juntaram-se ao projeto e foram importantes na estruturação da escola e na sua representação junto às entidades do setor e as autoridades do Turismo. Ernani investiu na organização do barracão e na montagem do Carnaval, enquanto Edmundo representava a agremiação na União das Escolas de Samba. Estreando na avenida pelo Grupo 3, em 1971, a escola venceu o Carnaval dois anos depois.

Ritmista: a escola não descuida de sua gente
No embalo de um desfile que só encontrava parâmetros na Mocidade Alegre, a renovadora do Carnaval paulistano, a escola venceu o Grupo 2 em 1974 e chegou ao Grupo 1, no Carnaval de 1975, numa ascensão que assustou os velhos sambistas da cidade. Já no primeiro desfile entre as grandes agremiações, a escola azul e rosa conquistou um vice-campeonato com o enredo A Rua, que tinha samba de Zeca da Casa Verde. Depois de se posicionar muito bem nos anos seguintes, a escola acabou por vencer dois carnavais seguidos, em 1983, com o enredo Nostalgia (com novo samba de Zeca, autor dos sambas da escola na década de 70), cantando a São Paulo do início do Século XX, e em 1984, com A Velha Academia, Berço de Heróis, homenagem às arcadas da Faculdade de Direito do Largo de S. Francisco. Depois do bicampeonato e de um período de jejum, a escola voltaria a vencer em grande estilo, se superando com o tricampeonato de 1990 (Até Que Enfim… É Sábado), 1991 (De Piloto de Fogão a Chefe da Nação) e 1993 (Non Ducor Duco, Qual É a Minha Cara). Dois anos depois, mais um título, com o enredo Sapoti, uma homenagem à cantora Ângela Maria. A concorrência desde então se fortaleceu, com a ascensão da Gaviões da Fiel, da Império da Casa Verde e da X-9 Paulistana, que passaram a lutar por títulos, e a agremiação da Zona Norte de São Paulo amargou um longo período de 16 anos sem vencer. No Carnaval deste ano de 2010, no entanto, ninguém superou a agremiação de Basílio, que não assistiu à mais recente glória de seu grupo. Morto em 2003, ele foi sucedido pela filha Angelina, atual presidente, e não viu o enredo exaltando a riqueza do cacau, com o qual a escola venceu seu sétimo título no grupo principal do Carnaval da cidade, superando sua vizinha do Bairro do Limão, a Mocidade Alegre, por apenas 0,25 ponto. A Rosas de Ouro desenvolveu um sistema de confecção que lhe permitiu, ainda nos anos 70, controle absoluto da qualidade das fantasias. Além de centralizar a produção para manter uma padronização, a escola se antecipava e conseguia aprontar as roupas muito antes do Carnaval, com tempo para reparos e aperfeiçoamentos, fugindo da tradicional correria de última hora, que era uma tradição do Carnaval paulistano. Artesãos da própria escola foram treinados para a execução de adereços e auxílio na montagem dos enredos, fornecendo mão-de-obra qualificada aos seus carnavalescos.

Alegorias grandiosas feitas por carnavalescos e artesãos da casa
Ainda nos anos 70, a quadra acanhada dos confins da Brasilândia ficou pequena e Basílio buscou um local mais acessível aos sambistas de toda a cidade, que começaram a se interessar pela nova agremiação. Um terreno amplo junto à ponte da Freguesia do Ó, na rua Coronel Euclides Machado, passou a abrigar uma enorme quadra coberta onde a escola montou seu atual quartel-general, palco de seus ensaios pré-carnavalescos sempre muito concorridos e de shows de grandes nomes do samba. A localização e o bom desempenho da escola atraíram um público pouco acostumado com o ambiente do samba. Caravanas de simpatizantes e futuros componentes da escola passaram a chegar da Zona Sul e dos Jardins, fazendo da agremiação uma referência de bom programa para uma noite de verão.
Fantasias bem cuidadas: marca registrada da escola
Em 1998, Marcos Eduardo Monteiro, dono de bar no Jardim Paulistano, criou o Trem das Onze, um comboio sobre pneus que saía de seu estabelecimento às 22 horas do sábado levando cerca de cinquenta pessoas aos ensaios da escola. A fama de anfitriã acolhedora atraiu celebridades, como o craque Raí, destaque nos carnavais de 2003 e 2004, Adriane Galisteu, rainha da bateria em 2005, e Ellen Rocche, que a substituiu, e ainda hoje desfila à frente da bateria. Até o astronauta Marcos Cesar Pontes foi atraído pela azul e rosa e desfilou como destaque em 2008. Se de um lado atraía um público seleto, de outro a escola não descuidava da vizinhança. Os sambistas de Vila Brasilândia e da Freguesia do Ó nunca deixaram de ser prioridade da direção. No local onde montou sua morada definitiva, a escola fincou raízes profundas, que a levaram a um trabalho social forte, incluindo a retirada de crianças das esquinas do bairro para atividades na quadra. Em 1997, sua então rainha de bateria Luciana Maria Pereira, depois de dois anos de trabalho junto à comunidade, foi convidada para o cargo de assessora da Secretaria Municipal da Família e do Bem-Estar Social para desenvolver projetos com menores carentes. Longa vida à Roseira.

Rosas de Ouro: 39 anos de história e bons carnavais


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