O cantor e compositor Antônio Moreira da Silva, o Morengueira, criador do
samba-de-breque, morreu no dia 6 de junho de 2000. Cheio de manhas e filosofias,
ele foi o protótipo do malandro carioca. Mas só no visual e no gogó. Trabalhou a
vida inteira, conciliando a carreira de cantor com empregos fixos. Suas tiradas
de humor que vão do pitoresco ao ácido, compõem uma antologia, que reunimos
neste perfil. Contar a história de um homem que viveu 98 anos a partir de
depoimentos do autor e de seus contemporâneos é uma coisa complicada. As pessoas
normalmente fabulam sobre o passado, superdimensionam seu papel em episódios nos
quais tiveram escassa participação e se esquecem das mancadas que deram. Ou
seja, só falam das pingas que tomaram, mas não se lembram dos tombos que
levaram. Isto aqui é um breve levantamento da vida de Moreira da Silva a partir
de entrevistas e declarações feitas à imprensa ao longo de seus últimos 40 anos
de vida.
NASCE UM ASTRO
Morengueira, nasceu no Rio de Janeiro. Há
alguma controvérsia sobre a data exata de seu nascimento, mas é ele quem
informa: “Nasci em 1902, no 1º de abril, na rua Santo Henrique, hoje Carlos
Vasconcelos, na Tijuca” (Fatos e Fotos, 11 de dezembro de 1973). E morreu em sua
cidade natal, no dia 6 de junho de 2000. Filho de Dona Poladina e de Bernardino
da Silva Paranhos, um trombonista da banda da Polícia Militar do Rio de Janeiro
que morreu de cirrose hepática, o sambista nunca bebeu nem fumou, sempre
trabalhou, casou-se em 1928 e permaneceu casado por 56 anos com a mesma mulher,
Maria de Lurdes Lopes Moreira, a Mariazinha, a quem conheceu fazendo uma
serenata no morro de São Cristóvão. “Nunca tomei um porre em toda a minha vida”,
diria pouco tempo antes de morrer. “Não bebia e ainda fazia apologia do leite?”,
escreveu o chargista e amigo Adail, quando de sua morte. Criado nos morros da
cidade – “eu morei no Morro do Salgueiro também” – e formado na zona boêmia do
Mangue, Moreira encarou o batente cedo e com uma assiduidade exemplar. Aos 9
anos foi para a escola. Mas logo deixou o Colégio Barão de Pilares, na Tijuca, e
foi à luta para ajudar a família. “Filho de pobre, quando morre o pai, a coisa
fica preta”. Criança, vendeu doce nas ruas do Rio, entregou marmita e catou
papel.
Na adolescência, trabalhou numa fábrica de meias, em Botafogo. “Eu andava
oito quilômetros a pé por dia, com uma comidinha muito fraca, que mal dava para
enganar o estômago. Estava muito longe da minha mãe, que era cozinheira. Minhas
irmãs foram morar na casa de umas tias e eu fiquei sozinho no barraco. Meu
almoço era geralmente um bolo de milho e bananada. Depois, água por cima.
Inchava o estômago, e eu passei a sofrer do fígado” (Fatos e Fotos). Levou a
vida nesse sufoco até que, aos 19 anos, arrumou um emprego na fábrica de
cigarros Souza Cruz, onde começou a trabalhar como ajudante de motorista. Por
essa época já se apresentava em festas de conhecidos e fazia serestas em que
cantava modinhas de Hermes Fontes e Cândido das Neves. “Fiz muitas meninas
chorar, dando o meu recado em serestas”. Uma dessas meninas foi Jandira, a quem
engravidou. A moça e a criança morreram no parto. “O mulatinho ficou triste, mas
um pouco aliviado. De alguma forma, tirou uma grande responsabilidade das
costas”, diria mais tarde, para espanto de muitos. Tempo de vacas magérrimas.
Chegou a trabalhar numa barraca na festa da Penha em troca de um prato de
comida: “Para mim, aquele ensopado de repolho valeu como uma das sete maravilhas
do mundo”, elogiou o cardápio, comido “no maracanã e de remo” (em prato fundo e
com a mão).
Em 1923 tirou a carteira de motorista e, antes de virar artista consagrado,
foi chofer de táxi . A partir de 1926, foi também motorista de ambulância,
acumulando as funções durante algum tempo para sustentar uma irmã e a mãe. “Fui
pedir emprego na Assistência Municipal e com meu modo de falar, modéstia à
parte, consegui. Fiz um exame superficial e fui aprovado”. Ficou lá por doze
anos. A Revolução de 30 foi encontrá-lo como motorista de Arsênio de Souza
Matos, secretário do prefeito Prado Júnior (“Um dos melhores prefeitos que
tivemos nessa ex-capital federal”), que fora ao palácio solidarizar-se com o
presidente Washington Luís. “Veja você, o terceiro regimento sublevado, era dia
de praia e eu lá no Palácio. De vez em quando, um tirinho aqui, outro ali”,
fabularia Moreira décadas depois. “Se os revoltosos do Regimento da Urca
soltassem mesmo as tais bombas de 400 quilos que ameaçaram jogar naquele dia, eu
teria meu revertere ad locum tuum sem apelação”. Como o bom malandro
não anda sempre na linha, “que o trem pega”, Moreira também tinha os pés bem
fincados na orgia. Durante a juventude frequentou rodas de baralho, botequins e
a zona do meretrício. Conviveu com os malandros históricos da Lapa, gente como
Brancura, Manoel Carretilha, Waldemar da Babilônia e João Cobra. E com bambas do
Estácio, como Marçal, Bide, Baiaco e Ismael Silva.
Tornou-se figura conhecida da boemia. “Convivi muito tempo no meio de
malandros, e eles respeitavam minhas batucadas”, dizia. “Eu sempre ia às festas
na Praça Onze, onde tinha roda com rasteira, rabo-de-arraia. Era magrinho,
novinho, mas entrava na roda e era respeitado”, dizia sem falsa modéstia. Chegou
a complementar sua renda com o dinheiro de uma prostituta que se encantou com
sua lábia afiada. “Não gostava dela, mas a moça me satisfazia”. Apesar disso, a
boemia para ele foi sempre na base da “canja e ovos quentes”. O vago-mestre (rei
da malandragem) era consciente de seu lero: “Se me deixar falar, o ladrão não me
assalta. Se me deixar falar muito, eu tomo uma grana emprestada. O malandro de
hoje anda armado de 45, matando motorista de táxi”, indignava-se. “Adoro o Rio,
mas hoje só saio com um objetivo, por causa da violência”. Um contraste grande
com o submundo que conheceu, onde “a arma do malandro era a saliva, o papo, a
baba de quiabo”. Dizia que “antigamente, você deixava o carro aberto e o máximo
que entrava era mosquito. Crime era só passional. Hoje, nas ruas, só tem
punguista, ladrãozinho barato. Tem menino de 16 anos que está emprenhando gente
e na hora em que comete um crime diz que é de menor”.
A CARREIRA
Foi dirigindo táxi que encontrou seu caminho:
“Nessa época, meu principal passageiro era o compositor Ismael Silva. Foi o
Ismael quem botou na minha cabeça a idéia de me transformar em cantor. Graças a
ele gravei meu primeiro disco”, declarou Moreira em entrevista à Revista do
Rádio, em 1965. “Nesse tempo eu cantava muito nas horas vagas. Era seresteiro,
dava o meu recado”. Sua primeira incursão em disco foi na Odeon, onde gravou
dois pontos de macumba de Getúlio Marinho (Ererê e Rei de
Umbanda, de 1931). “O Getúlio me chamou e disse: Moreira, quero usar sua
voz para gravar para mim”. Mas gravar música de macumba deixou o mulato
cabreiro. “Eu não sou supersticioso, mas me veio um troço assim… Então, sai
dessa, malandro, disse para mim mesmo”. (Havia motivo para a cisma: “Já vi o
sobrenatural”, disse, fazendo referência a uma aparição com a qual deparou aos
19 anos, quando chegava em casa, na rua Major Ávila. Uma mulher de preto surgiu
à sua frente e desapareceu em seguida.)
O primeiro sucesso veio com Arrasta a Sandália, de Aurélio Gomes e
Baiaco (malandro histórico e compositor da Deixa Falar, a primeira escola de
samba), em 1932. Em 1934, passou a integrar o casting do Programa Casé, na rádio
Philips. No ano seguinte, estourou com Implorar, de Kid Pepe, Germano
Augusto e J. Gaspar, pela gravadora Columbia. Moreira afirmava que a primeira
parte desse samba era dele e que J. Gaspar “herdou” seus versos. Em 1937, César
Ladeira o viu cantar no Cassino Atlântico, que ficava no posto 6, em Copacabana,
e o levou para a rádio Mayrink Veiga. “Todo mundo corria para casa para me ouvir
cantar, como hoje corre para ver novela”, dizia sem modéstia. “Quando anunciavam
o nome do Moreira numa boate de lona (circo), aquilo enchia”. Um ano depois,
retornou à Odeon, onde gravou Acertei no Milhar, de seus amigos Wilson
Batista e Geraldo Pereira.
Em 1939, levado pelo cantor português Manuel Monteiro, viajou a Portugal,
onde se apresentou no teatro Politeama (“O navio jogava mais que viciado em
corrida de cavalo”). Foi um sucesso: “Abafei, com meu passinho de malandro”.
Agradou tanto que fez uma participação no filme A Varanda dos
Rouxinóis. A década mudou e ele embarcou numa seqüência de sucessos. Gravou
Amigo Urso, em 1941, Fui a Paris (Moreira e Ribeiro Cunha) e
Dormi no Molhado (Moreira), em 1942. No ano seguinte, gravou
Conversa de Camelô, de T. Silva e S. Valença. Em 1950 foi contratado
pela rádio Tupi, do Rio, e lançou seu primeiro long-play, pela gravadora Santa
Anita. Em 1958 fez um novo retorno à Odeon, onde gravou o segundo LP, O
Último Malandro, em que se destaca o clássico Na Subida do Morro
(Moreira e Ribeiro Cunha). Moreira canta Na Subida do Morro
com Roberto Carlos:
UM CANTOR DIFERENTECantar numa época em que as ondas do
rádio eram dominadas por canários como Chico Alves e Sílvio Caldas, intérpretes
sutis como Mário Reis e afetados como Carmen Miranda, – “no tempo em que cantor
tinha que esticar a veia do pescoço” – era um desafio gigantesco para Moreira.
Mas encarnando a imagem dos malandros autênticos, terno de linho branco HJ-S
120, sapato bicolor (“de pelica, ou botinha com botões de madrepérola”) e chapéu
panamá, o marido de dona Mariazinha convenceu e cavou seu lugar ao sol. Moreira
levou as melodias sincopadas de Geraldo Pereira ao radicalismo do
samba-de-breque em clássicos como Na Subida do Morro. Ele mesmo
atribuía pouca importância à sua criação. “Eu queria mesmo era ser advogado, ter
o dom de falar como o Carlos Lacerda”. Dizia que foi por acidente que o breque
apareceu, durante um show num cinema do subúrbio carioca do Méier, em 1936. “Foi
por acaso, como quase todas as descobertas dos cientistas. Eu estava cantando um
samba fraquinho e decidi interromper e improvisar umas falas só para brincar com
a platéia”, disse. “O Tancredo Silva me deu um samba de quatro linhas (Jogo
Proibido) e eu improvisei em cima: ‘Meto a solingen na garganta do otário e
ele geme, ai, ai, meu Deus. Não posso mais. Vou me acabar’. Aí nasceu o breque”,
declarou ao Jornal do Brasil, em 1972. “O público aplaudiu de pé, e eu pensei: é
aí que está o petróleo, malandro. Vou meter a sonda”. Foi o ponto de partida para seus sucessos no gênero que fez o inferno na vida
de um violonista conhecido como Frazão, numa história que entrou para o folclore
musical brasileiro. Depois de acompanhar Moreira num show no Teatro Olímpico, o
músico virou-se para o cantor e bronqueou: “Foi a primeira vez que acompanhei
conversa”. Estava criado o rap caboclo, muitas décadas antes do Public Enemy. “O
Luís Barbosa já cantava esse samba fazendo uma espécie de breque corrido”,
afirmou Moreira em entrevista à revista Ele & Ela (maio de 1982). Moreira
teria dado o breque geral, falando de improviso sem acompanhamento de
instrumentos. Seu segundo samba-de-breque é o pouco conhecido Fui a São
Paulo:
Eu fui a São PauloAssistir uma partidaDa famosa
Copa RocaEm companhia da MarocaFiquei
satisfeitoDe ver nosso time se desenvolverTraçando o
couro pra valer…
Moreira vira o Rei do Gatilho:
https://www.youtube.com/watch?v=KGxyqg4I44k
MORENGUEIRA
Depois veio Doutor em Futebol, em
que mostrava que para ter nome não era preciso ser diplomado: “Basta saber
controlar o caroço com inteligência”. Seu último sucesso, já na década de 60,
foi o samba O Rei do Gatilho, de Miguel Gustavo, cuja letra falava de
um caubói que, como o Zorro americano, tinha por companheiro fiel um índio. Era
o Kid Morengueira, que passou a ser o apelido que o acompanhou pelo resto da
vida. Miguel Gustavo compôs outros sambas em sequência à série que falava das
aventuras do herói brasileiro: O Último dos Moicanos, Os Intocáveis, Moreira
Contra 007 e O Seqüestro de Ringo. Foi um renascimento do
sambista, que graças à parceria com Miguel Gustavo reconquistou as ondas do
rádio, “já agora junto ao público mais sofisticado da Zona Sul do Rio de
Janeiro, graças a letras que exploravam situações engraçadas mais próximas do
interesse da chamada classe A”, fuzilou o crítico José Ramos Tinhorão, com sua
opinião de pedra. Coincidência ou não, é nessa época (1968) que Moreira se
apresenta pela primeira vez numa boate da Zona Sul, a Chez Toi.
Mas os tempos já eram outros. No final dos anos 60 ele se queixava da
concorrência dos “cantores cabeludos que estão dando sopa e que cantam até de
graça para aparecer nos programas”, dizia, ressentido com a televisão. Em
entrevista a Ilmar Carvalho, do Correio da Manhã (9 de abril de 1970), ele se
dizia feliz com a venda de seus dois últimos álbuns (Os Sucessos de Moreira
da Silva Continuam, 1968 e Manchete do Dia, 1969, só com sambas
inéditos) lançados pelo selo Cantagalo: 30 000 discos. “Isso porque a gravadora
não tem um plano de relações públicas (sic) e vendas para o Rio, onde tenho um
público bom e fiel”, dizia. E explicava seu novo rompimento com a Odeon:
“Apareceu gente mais nova, ótimos profissionais, e os mais antigos, como eu,
ficaram no come e dorme, sem cobertura da gravadora”, resignava-se. “Creio que
Vôo Espacial vai fazer o sucesso de Amigo Urso“, sonhava o
velho malandro, citando uma das faixas do disco Manchete do Dia. “O
sucesso corre como água de regato. Às vezes pára um pouco, faz aquele remanso,
mas a onda vem de novo”, diria em depoimento no Museu da Imagem e do Som, em
1967. Mas o sucesso já era coisa do passado.
FINAL DE CARREIRA DE MALANDRO?
“O malandro, aquele
malandro velho, sucumbiu”, pontificava Moreira sobre a criminalidade daquele
início de anos 70, numa frase que soava como uma auto-referência. “Hoje,
infelizmente, o que tem é bandido, assassino”, diria anos depois. Mas ele ainda
tinha muita lenha para queimar. Em 1970 a EMI-Odeon relança, pelo selo Imperial,
o LP A Volta do Malandro, que abre com sua fantástica interpretação de
Gago Apaixonado, de Noel Rosa, compositor a quem sempre foi fiel. Em
1971, gravou Moreira da Silva na Academia, alugou um fardão e
dirigiu-se para a Academia Brasileira de Letras. Austregésilo de Athaíde, o
presidente da casa, não gostou da piada e barrou sua entrada. Sua briga com a
ABL prosseguiu até 1984, quando gravou Clã dos Imortais, do jornalista
William Prado, criticando o sistema fechado da entidade, que não aceitava
mulheres.
No mesmo ano, Moreira gravou pela CID o disco Consagração de
Moreira da Silva, sem qualquer sucesso. Mas garantia que seu burro estava
na sombra: “Hoje não sou rico, mas ganho 5 000 cruzeiros por mês com direito a
aumento, tenho direitos autorais, fundo no banco e apartamentos, um na rua do
Senado e outro onde mora minha filha”. Já naquela época o mercado para o samba
tradicional era São Paulo: “Aqui (Rio) urubu está voando baixo. Em São Paulo
atuo no Canal 7 e na TV Cultura. Até recebi uma medalha de ouro na boate Jogral,
onde só se toca samba tradicional”. Mas a pancada vinha embutida: “Só que gravam
tapes para todo o lado e não nos pagam”. A televisão já era a televisão. “Não
posso me queixar da vida. Tenho uma rendazinha que dá para enfeitar o babado”.
Em 1976, o velho malandro começou uma nova fase. Retornou aos palcos ao lado de
Jards Macalé (“É meu único aluno”). Apresentaram-se juntos no Projeto Seis e
Meia, do Teatro João Caetano. No ano seguinte, inauguraram o Projeto
Pixinguinha. Passaram a fazer shows por todos os cantos. Em 1979,
participaram de um festival promovido pela extinta TV Tupi, com o samba, única
parceria da dupla, Tira os Óculos e Recolhe o Homem, que foi
classificado, o que lhes valeu uma vaia da torcida dos novos artistas, que
afinal eram o alvo do concurso. A vaia não o abateu, mas ficou indignado: “É a
primeira vez que sou vaiado, pô!”. Era fichinha para ele. Seu lugar no panteão
dos grandes da música brasileira já estava garantido como o criador do
samba-de-breque, um gênero que marcou época. Em 1987, voltaram a fazer shows
juntos, em comemoração aos dez anos do Projeto Pixinguinha – e voltam a
excursionar. Ainda em 1979 lançaria pelo selo Jangada (EMI/Odeon) o LP O Astro,
“Talvez o melhor disco da carreira de Moreira”, no dizer de Tinhorão. No final
do mesmo ano lançou novo disco, O Jovem Moreira, pela Polygram, em que
regrava Diplomata, de Henrique Gonçalves, composto em 1939 e
Homenagem a Noel, de sua autoria. Seu próximo álbum só apareceria sete
anos mais tarde, pela Top Tape: Cheguei e Vou Dar Trabalho (1986), em
que inova ao oferecer 18 faixas aos seus fãs, entre elas – surpresa – A
Volta do Boêmio (samba-canção de Adelino Moreira, lançado em 1956, grande
sucesso na voz de Nelson Gonçalves) e Último Desejo (Noel
Rosa, 1937), em que relembra seus dotes de seresteiro. Ouça:
Nesse disco dá nova roupagem a outro samba-canção, As Rosas Não
Falam, clássico de Cartola. Aos 84 anos ele já não era o mesmo cantor que
encantou multidões pelas ondas do rádio. “Um tanto forçado nas passagens de
nota, é verdade, mas ainda eficiente nos graves”, analisaria o crítico Tárik de
Souza. Mas ele seguiria em frente. Em 1989 entrou em estúdio com músicos do
naipe de Dino Sete Cordas e Mauro Senise, para gravar o LP 50 Anos de Samba
de Breque, pela CID/Fama. Nesse disco regrava mais uma vez Na Subida Do
Morro, O Rei do Gatilho e Acertei no Milhar. E ainda a crônica do
sufoco do Rio às voltas com as enchentes em Cidade Lagoa
(Cícero Nunes e Sebastião Ferreira).
DON JUAN
Desde que a mulher morreu, em 1983, o sambista
não descansou. “Se pudesse, teria um harém, nem que fosse só para olhar”, disse
a O Globo. “Nunca prestei. E depois que começou a carreira artística, então… Mas
sempre amei a minha mulher”, confessou. Moreira entrou nos anos 90 ao lado de
Denise Conceição, uma morena de apenas 24 anos de idade. “Estamos casados pela
lei Divina”, babava ao lado da mulher com quem dizia estar tendo um caso havia
cinco anos. Ou seja, ele tinha 83 anos quando conheceu Denise com 19. “Já
legalizei a situação de Denise no INSS e lhe dei uma pensão de 35 000 cruzeiros,
além de uma casa em Saracuruna, subúrbio do Rio, e vou colocá-la também no
Iaserj para ter seus direitos garantidos”, cuidava ele. Mas continuaram morando
separados. “Ela me chama de meu amor olhando nos meus olhos”, acreditava o velho
malandro.
Não permitia que a filha e o genro interferissem na relação. Para quem
imaginava que ele estava fazendo papel de tolo, o velho sambista dava o breque:
“Eu encaro até hoje, pois sou protegido pelas almas benignas. Meu nome é Antônio
Moreira da Silva, noventa e um anos, corpo limpo, sem varizes, afogando o ganso
com cara de pavão misterioso. Tomo chá de jurubeba com alcachofra e faço exames
periódicos”. Embalado nos braços de Denise, ele fez em maio de 90 uma série de
shows na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio. Em junho, estréia temporada curta
no Jazzmania. No mês seguinte deu um depoimento ao Museu do Carnaval, no módulo
Velha Guarda, entrevistado por Ricardo Cravo Albim, Osmar Frazão, Aidran Galvão,
Vani Bayon e Tárik de Souza. O jornal O Globo (30 de julho de 1990) registra
algumas frases do depoimento: “Tem um tal de Cabral que aparecia todos os
domingos de carnaval lá em casa para comer feijoada. Hoje, ele só me escreve
para pedir voto”.
Em 1991, Moreira foi escolhido pela prefeitura do Rio de Janeiro, para
inaugurar com um show a reurbanização da Lapa, o velho reduto da malandragem,
dos bares e cabarés. O então prefeito, Marcello Alencar, fez questão, já que o
artista representaria o verdadeiro espírito do bairro. O rei do breque atendeu
com naturalidade à convocação: “Sou um símbolo carioca”. Mas ele diria mais
tarde que nunca foi de frequentar a Lapa. “Eu freqüentava o mangue. Parava o
táxi e namorava as prostitutas. A Lapa era um refúgio de artistas que moravam
longe e iam dormir com as prostitutas”. Mesmo assim, ao ser convocado, falou com
hilariedade dos bons tempos do bairro: “Os táxis faziam ponto perto do
lampadário. Havia os botecos, a leiteria da Rua Visconde de Maranguape, os
cabarés. A rapaziada corria atrás das mariposas da Rua Joaquim Silva. Uma vez,
quando eu era motorista de táxi, peguei um freguês que me disse precisar de uma
mulher. Fui à Joaquim Silva e botei uma mulher no carro. Seguimos para a Vista
Chinesa, mas quando chegamos lá o cara tinha dormido. Eu, então, executei a
lebre”.
Nos anos seguintes comemorou seus 90 anos com um show na boate People, e os
91 no Jazzmania, no Rio. Estava em plena atividade. Em 1993 lançou
Moreira da Silva Fotografando a Cidade, o primeiro CD, em que
reuniu os sucessos do período 1958-60, pela EMI/Odeon. E novamente grava Na
Subida do Morro e Olha o Padilha. Regrava também Conversa de
Botequim, de Noel Rosa e Pistom de Gafieira, de Billy Blanco. Em
outubro, abriu a série de shows do Projeto Cultural da Caixa, no Teatro Nelson
Rodrigues. Em 1995, comemorou seus 93 anos na Ritmo, no Rio, com um show em que
cantou vinte de seus sambas mais conhecidos. Durante o espetáculo, foi
entrevistado pelo jornalista Sérgio Cabral. O afilhado Jards Macalé subiu ao
palco mais uma vez com seu professor, para dele receber o bastão (o chapéu
panamá), pois o mestre estava oficialmente abandonando os palcos. “As pernas
estão ficando bambas e, se não dá para sambar, não tem mais graça”,
lamentava-se. “É uma honra ser herdeiro de uma crônica viva do Rio”, declarou
Macalé. Fazia vinte anos que os dois haviam dividido pela primeira vez um palco,
no show do Teatro João Caetano. A triste despedida de Moreira não foi triste nem
despedida. Já no ano seguinte ele cantou no pequeno palco do bar Vou Vivendo, de
São Paulo, um reduto do melhor samba encravado numa esquina da Avenida Pedroso
de Moraes, no bairro de Pinheiros. Embalado pelo sucesso do CD Os Três
Malandros, que dividiu com os sambistas Bezerra da Silva e Dicró, seu
último disco, lançado no ano anterior, Moreira não perdeu a irreverência e
aproveitou para dar um chega-pra-lá no neo-samba da terra da garoa: “Só vale o
balanço”.
Com Dicró e Bezerra: na cola dos
três tenores:
Em 1996, finalmente, sai a primeira biografia de
Moreira da Silva, O Último dos Malandros, do jornalista baiano
Alexandre Augusto Gonçalves, pela editora Record, baseada em depoimentos do
sambista. O jornalista João Máximo chamou a obra de livro de fã. Para ele faltou
a análise da música de Moreira. Máximo divide a obra de Moreira em duas fases. A
dos grandes sambas com grandes parceiros – Amigo Urso, Acertei no
Milhar – e a da saturação, com a repetição de falas já manjadas no momento
do breque. Nesta segunda fase a temática empobrece. “O Moreira do 007, do filme
americano, do último dos moicanos, já não tinha o mesmo apelo”, disse na resenha
do livro. “Nos seus últimos tempos em forma, era preferível ouvi-lo reviver
Cigano, de Lupicínio, a emparceirar-se com Macalés, Dicrós e Bezerras”,
escreveu o jornalista. Mais conhecido das novas gerações exatamente pela sua
fase Miguel Gustavo, não há como negar que o melhor do Moreira é exatamente o
que foi gravado na chamada época de ouro da música brasileira, os anos 30 a
50.
Seus 96 anos foram comemorados em grande estilo. Pela manhã, tomou café com
crianças carentes assistidas pela Legião da Boa Vontade. Queria se lembrar dos
tempos difíceis da infância. Depois, Jards Macalé e Ellen de Lima cantaram para
ele seus antigos sucessos, no Teatro João Caetano. De lá, caminhou acompanhado
por uma banda para um almoço no tradicional Bar Luiz, na Rua da Carioca. Moreira
ainda ganhou um par de sapatos brancos de uma loja do centro e uma homenagem da
Sociedade Amigos da Rua da Carioca. Dois anos antes de sua morte, o velho
Morengueira sonhava figurar no Guiness Book of Records, como o cantor mais velho
em atividade. E vivia a expectativa do lançamento na Austrália e em Portugal de
alguns dos 26 álbuns que gravou ao longo da vida. Ainda ativo, tinha na gaveta o
samba-de-breque Pra Fazer 97, em parceria com Reginaldo Bessa e
Ecologia, com Aidran do Grajaú. Foi com Bessa que ele se apresentou
numa temporada no Vinícius Bar, no início de 1997.
LÍNGUA NÃO TEM OSSO
Moreira nunca foi de fazer média.
Deitou falação sem travas na língua. Para ele “a batida da Bossa Nova é quase a
de rumba”. Caetano Veloso queria mesmo “é rebolar, um atrevido. Imagine que
outro dia ele criticou a Aquarela do Brasil por causa da palavra
inzoneiro. Ora, quem é Caetano Veloso para falar de Ary Barroso?”, tascou. “Tião
Motorista é que é o bom da Bahia”. E mais: “Edu Lobo e Tom Jobim são razoáveis”,
disse à revista O Cruzeiro, em dezembro de 1968. “Gosto mesmo é de serestas e
das baladas do Agnaldo Timóteo”, feriu o malandro. “Gosto do Roberto Carlos, mas
não gosto do seu Jesus Cristo, uma jogada com o nosso Pai para ganhar dinheiro”,
castigou em outra entrevista. “O Chico Buarque é o Noel muito devagar”. Paulinho
da Viola? “É ainda água-com-açucar. É sofrível”. E tome polca: “Outro dia eu vi
aquela menina, a Gal Costa, uma porcaria, ela é neutra”. Martinho da Vila: “É
sempre aquilo que você tá vendo aí. Inclusive o Batuque na Cozinha não
é dele não. Isso é mais antigo que Dom Pedro II”. Elis Regina: “Eu sou melhor do
que ela em qualquer parte do mundo que a gente bater”. Donga é que era o tal:
“Foi um cara bom. Grande compositor e tocava violão muito bem”. Mas ele também
levou troco. Rigoroso com os outros, sofreu o rigor do também longevo Carlos
Cachaça, o grande mangueirense. “Os sambas dele eram mais comerciais, mais
rentáveis. Nem as minhas parcerias com Cartola renderam muito dinheiro”.
Moreira também deitou falação contra os meios de comunicação. “No rádio é que
é o jabaculê. O disc-jóquei leva o dinheiro e diz que está em primeiro lugar.
Tudo grupo, entende?”, disse em entrevista ao Pasquim, na década de 70. “Na TV a
coisa funcionava diferente.
A Tupi combinava 700 cruzeiros (de cachê). Quando
chegava lá, um cara dizia: ‘escuta, o rapaz que te telefonou disse que era 700,
mas só pode ser 500’”. Desse tempo para cá a coisa piorou bem. O cachê minguado
cedeu lugar ao pagamento feito pelo artista ou pela gravadora para divulgar a
música. No começo dos anos 70, Moreira soltou as cobras contra o apresentador
Abelardo Barbosa, o Chacrinha: “Há 40 anos mandei fazer dois ternos pra ele,
cantei com amigos de graça para arranjar-lhe uma nota, que ele estava duro.
Hoje, o malandro não paga e até quer que a gente pague para se apresentar no seu
programa”. Incisivo com os colegas, ele pegava leve com o poder. Gravou um samba em
homenagem a Getúlio Vargas, quando o Brasil declarou guerra ao eixo: “Minha
bandeira foi ultrajada, temos um homem de fibra, Getúlio Vargas, posso empunhar
um fuzil pela honra do meu Brasil”, babou no chapéu panamá. Gostou do velhinho
até o fim: “Foi o único político que eu vi apertar a mão de um lixeiro”,
justificava. Para Juscelino Kubitschek gravou Cutuca, Nonô, de Miguel
Gustavo. Não gostava de agitação: “passeata não resolve”. E chegou a se
candidatar a vereador pelo PTB do antigo Distrito Federal, levando apenas 400
votos: “A moçada parece que não acreditou em mim”.
Panamá e terno de linho branco HJ-S 120:
conquistador
Se o povo o tratou mal, o Estado o tratou bem.
Aposentou-se em 1959 como encarregado de garagem, mas desde que se tornou um
artista consagrado não desempenhava a função. “Os colegas tiravam meu plantão”,
declarou ao Pasquim. Moreira não era político, não militava, mas suas músicas
revelavam em crônica as desigualdades e a injustiça social, sem panfleto.
Insurgiu-se de leve contra a invasão da música estrangeira. Ao jornal Opinião
exibiu, em 1976, seu nacionalismo corporativo: “Uma estação de rádio não é uma
propriedade definitiva, aquilo é um veículo de propaganda (sic) que pode levar
até a envenenar a nossa pátria”. Em 1984 gravou Moreira Já, de William
Prado, um samba pelas eleições diretas, lançado com 1 500 compactos durante show
no Mistura Fina, em Ipanema. Do outro lado do disco, o samba com que espicaçou a
Academia Brasileira de Letras. “Afinal de contas, sou pelas eleições diretas”,
justificou. Moreira confessou ter votado em Lula para presidente: “O FHC eu não
gosto, parece que vai descontar dos aposentados”. Cruel crítico dos colegas,
louvador de presidentes e amante das eleições livres, Moreira era coluna do meio
na questão do direito autoral. Perguntado no Pasquim pelo produtor e crítico
Mariozinho Rocha se tinha queixas do órgão arrecadador, foi pelo caminho suave:
“Não, não, não. Aí eu sou neutro. Sabe como é que é…”, desconversou. Seu
comportamento tinha outra explicação: era conselheiro da SBACEM, órgão
responsável pelo recolhimento de direitos autorais.
SAMBAS PRÊT-À-PORTER
A autoria da obra de Moreira como
compositor era questionada por ele próprio: “A necessidade faz o sapo pular”,
dizia. “Já vendi e comprei muito samba”. No começo da carreira, não: “Naquele
tempo eu não era muito esperto para pedir parceria, hoje eu peço”, confessou em
1973. Moreira falava com tranqüilidade sobre o comércio de sambas: “O esquema de
entrar é o seguinte: o sujeito chega perto e diz: Moreira, eu tenho este samba
aqui, pode ter esquema de entrar… Quem me vendeu muita música foi o Zé Com Fome
(o compositor José Gonçalves, também conhecido como Zé da Zilda, sua mulher,
compositora que por sua vez se assinava como Zilda do Zé)”. Ele conta que pagou
150 mil-réis pelo samba Dormi no Molhado, do Zé da Zilda. “O Francisco
Alves comprava”, entregou na mesma entrevista. Ao jornal Opinião confessou ter
recebido de presente a parceria do samba A Carne, de Nelson Cavaquinho.
“Ele andava na pior, sem amparo. Ele vendia por qualquer preço a música dele.
Ele vendeu para um rapaz, o Roxo”, disse. Foi das mãos de Roxo que Moreira
ganhou a parceria em troca de gravar o samba. Em depoimento ao Museu do
Carnaval, em 1990, ele seria franco e direto: “Paguei um conto e trezentos
mil-réis ao Geraldo Pereira por uma música. Era um bom dinheiro. Mas quando ele
estava sem nenhum para pagar o quarto, me vendia por 150 mil-réis, confessou.
“Comprar música é subjetivo. Desde o começo da música os compositores vendem
suas canções”, justificava.
ENCARANDO A PERPÉTUA
Moreira dizia não ser saudosista,
mas viveu se queixando das novidades que surgiram no meio musical, às quais
atribuía o fim de seu reinado: “Um Ari Barroso, um Noel Rosa, a gente tem que
respeitar. Esses meninos de hoje são muito água-com-açucar”. No mais, se
conformava. Só estranhava a explosão demográfica: “Tá nascendo gente pra danar”.
Recebeu o ano 2000 sem cerimônias. “Velhice para mim não existe. Parece que
cheguei ontem ao planeta”, dizia. Aos 97 anos, sua visão da virada do milênio
era trivial: “O que vier eu traço. Enquanto São Pedro não manda a ordem de
captura, eu vou vivendo com habeas-corpus preventivo”. Da janela do apartamento
no Catumbi, onde vivia sozinho desde que Mariazinha morreu, em 1983, ele mirava
o cemitério, onde o jazigo número 6 o esperava. “Meus futuros guardiães, que
trabalham ali embaixo, me saúdam: não tem aparecido, seu Moreira. Eu fico meio
cabreiro e vou saindo de banda. Sai pra lá, mamão”, esconjurava. Mas não temia e
até desdenhava da perpétua: “O futuro é uma caveira”. E cantarolava: “Para fazer
97/Tem que ser malandro/Quem não pode, não se mete/Que o bicho tá pegando”.
Atribuía sua vitalidade a uma mistura bem brasileira, mas com nome gringo:
“black and white”. Não o uísque, que como já se viu não era seu forte. “Minha
mãe era black e meu pai era white”.
Moreira viveu seus últimos dias com o que recebia da pensão como chefe de
garagem do antigo Estado da Guanabara e de uma pensão de compositor e cantor
pelo INSS. Algo como 1.200 reais. “Dá pro gasto”, conformava-se. Além, é claro,
dos cachês de shows que fez até o fim. No apartamento do Catumbi, ele via o
tempo passar pela janela sem maior afetação, na manha do gato, mamando e miando:
“Passo a maior parte do tempo deitado, só levanto para ver novela e futebol”.
Não tinha condições de andar pelas ruas do Rio, como gostava. As pernas não se
sustentavam mais. Tempos atrás ele se levantava, tomava o café-com-leite e saía
para jogar no bicho, conversar com os vizinhos e passear pela região central da
cidade. Ia à Cinelândia, tomava uma mineral no Amarelinho, comia um ensopado de
quiabo batizado com seu nome no Paisano, como registrou a revista de Domingo do
Jornal do Brasil em março de 1992. Agora, quando saía, era de táxi. “Estou com
um pouco de dificuldade para andar por causa de uma cucaracha (barata) que matei
na banheira e acabei caindo”, queixava-se. Apesar disso, Bessa estava produzindo
o que seria seu último disco. E a saúde parecia estável. “Há pouco tempo fiz um
check-up e estava tudo certo: triglicerídeos, colesterol… Minha pressão é 12 por
8″, dizia, atribuindo sua forma ao ginseng para o corpo e ao Advil para a
dor-de-cabeça.
Morreu de falência múltipla dos órgãos, no Hospital dos Servidores do Estado,
no Rio. Com sua morte, aos 98 anos de idade, foi-se embora o último malandro.
Malandro daqueles cantados por Jorge Ben Jor, que sabem que é bom ser honesto e
são honestos só por malandragem. No idioma de Morengueira: “Se um vigarista
soubesse quanto é gostoso estar do lado da lei, se tornaria honesto só por
vigarismo”. Este era o retrato fiel do Moreira. “A malandragem nunca existiu
para mim. Sou um bípede mamífero que sempre trabalhou”, pontificava. “Hoje estou
humildemente, modestamente, na história do samba”. Não teve filhos (“Fiz uma
vasectomia natural por causa de tanta farra”), mas adotou Marli, que lhe deu
dois netos. Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Jards Macalé, Elza Soares, Bezerra
da Silva e Sandra de Sá, entre outros artistas, prestaram-lhe homenagem póstuma
num grande show no Canecão.
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