quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

MOREIRA DA SILVA

O rei do samba de breque



Por Julio Cesar Cardoso de Barros

O cantor e compositor Antônio Moreira da Silva, o Morengueira, criador do samba-de-breque, morreu no dia 6 de junho de 2000. Cheio de manhas e filosofias, ele foi o protótipo do malandro carioca. Mas só no visual e no gogó. Trabalhou a vida inteira, conciliando a carreira de cantor com empregos fixos. Suas tiradas de humor que vão do pitoresco ao ácido, compõem uma antologia, que reunimos neste perfil. Contar a história de um homem que viveu 98 anos a partir de depoimentos do autor e de seus contemporâneos é uma coisa complicada. As pessoas normalmente fabulam sobre o passado, superdimensionam seu papel em episódios nos quais tiveram escassa participação e se esquecem das mancadas que deram. Ou seja, só falam das pingas que tomaram, mas não se lembram dos tombos que levaram. Isto aqui é um breve levantamento da vida de Moreira da Silva a partir de entrevistas e declarações feitas à imprensa ao longo de seus últimos 40 anos de vida.

NASCE UM ASTRO

Morengueira, nasceu no Rio de Janeiro. Há alguma controvérsia sobre a data exata de seu nascimento, mas é ele quem informa: “Nasci em 1902, no 1º de abril, na rua Santo Henrique, hoje Carlos Vasconcelos, na Tijuca” (Fatos e Fotos, 11 de dezembro de 1973). E morreu em sua cidade natal, no dia 6 de junho de 2000. Filho de Dona Poladina e de Bernardino da Silva Paranhos, um trombonista da banda da Polícia Militar do Rio de Janeiro que morreu de cirrose hepática, o sambista nunca bebeu nem fumou, sempre trabalhou, casou-se em 1928 e permaneceu casado por 56 anos com a mesma mulher, Maria de Lurdes Lopes Moreira, a Mariazinha, a quem conheceu fazendo uma serenata no morro de São Cristóvão. “Nunca tomei um porre em toda a minha vida”, diria pouco tempo antes de morrer. “Não bebia e ainda fazia apologia do leite?”, escreveu o chargista e amigo Adail, quando de sua morte. Criado nos morros da cidade – “eu morei no Morro do Salgueiro também” – e formado na zona boêmia do Mangue, Moreira encarou o batente cedo e com uma assiduidade exemplar. Aos 9 anos foi para a escola. Mas logo deixou o Colégio Barão de Pilares, na Tijuca, e foi à luta para ajudar a família. “Filho de pobre, quando morre o pai, a coisa fica preta”. Criança, vendeu doce nas ruas do Rio, entregou marmita e catou papel.
Na adolescência, trabalhou numa fábrica de meias, em Botafogo. “Eu andava oito quilômetros a pé por dia, com uma comidinha muito fraca, que mal dava para enganar o estômago. Estava muito longe da minha mãe, que era cozinheira. Minhas irmãs foram morar na casa de umas tias e eu fiquei sozinho no barraco. Meu almoço era geralmente um bolo de milho e bananada. Depois, água por cima. Inchava o estômago, e eu passei a sofrer do fígado” (Fatos e Fotos). Levou a vida nesse sufoco até que, aos 19 anos, arrumou um emprego na fábrica de cigarros Souza Cruz, onde começou a trabalhar como ajudante de motorista. Por essa época já se apresentava em festas de conhecidos e fazia serestas em que cantava modinhas de Hermes Fontes e Cândido das Neves. “Fiz muitas meninas chorar, dando o meu recado em serestas”. Uma dessas meninas foi Jandira, a quem engravidou. A moça e a criança morreram no parto. “O mulatinho ficou triste, mas um pouco aliviado. De alguma forma, tirou uma grande responsabilidade das costas”, diria mais tarde, para espanto de muitos. Tempo de vacas magérrimas. Chegou a trabalhar numa barraca na festa da Penha em troca de um prato de comida: “Para mim, aquele ensopado de repolho valeu como uma das sete maravilhas do mundo”, elogiou o cardápio, comido “no maracanã e de remo” (em prato fundo e com a mão).
Em 1923 tirou a carteira de motorista e, antes de virar artista consagrado, foi chofer de táxi . A partir de 1926, foi também motorista de ambulância, acumulando as funções durante algum tempo para sustentar uma irmã e a mãe. “Fui pedir emprego na Assistência Municipal e com meu modo de falar, modéstia à parte, consegui. Fiz um exame superficial e fui aprovado”. Ficou lá por doze anos. A Revolução de 30 foi encontrá-lo como motorista de Arsênio de Souza Matos, secretário do prefeito Prado Júnior (“Um dos melhores prefeitos que tivemos nessa ex-capital federal”), que fora ao palácio solidarizar-se com o presidente Washington Luís. “Veja você, o terceiro regimento sublevado, era dia de praia e eu lá no Palácio. De vez em quando, um tirinho aqui, outro ali”, fabularia Moreira décadas depois. “Se os revoltosos do Regimento da Urca soltassem mesmo as tais bombas de 400 quilos que ameaçaram jogar naquele dia, eu teria  meu revertere ad locum tuum sem apelação”. Como o bom malandro não anda sempre na linha, “que o trem pega”, Moreira também tinha os pés bem fincados na orgia. Durante a juventude frequentou rodas de baralho, botequins e a zona do meretrício. Conviveu com os malandros históricos da Lapa, gente como Brancura, Manoel Carretilha, Waldemar da Babilônia e João Cobra. E com bambas do Estácio, como Marçal, Bide, Baiaco e Ismael Silva.

Lapa, com os bondes e seus famosos arcos: reduto da boemia   

Tornou-se figura conhecida da boemia. “Convivi muito tempo no meio de malandros, e eles respeitavam minhas batucadas”, dizia. “Eu sempre ia às festas na Praça Onze, onde tinha roda com rasteira, rabo-de-arraia. Era magrinho, novinho, mas entrava na roda e era respeitado”, dizia sem falsa modéstia. Chegou a complementar sua renda com o dinheiro de uma prostituta que se encantou com sua lábia afiada. “Não gostava dela, mas a moça me satisfazia”. Apesar disso, a boemia para ele foi sempre na base da “canja e ovos quentes”. O vago-mestre (rei da malandragem) era consciente de seu lero: “Se me deixar falar, o ladrão não me assalta. Se me deixar falar muito, eu tomo uma grana emprestada. O malandro de hoje anda armado de 45, matando motorista de táxi”, indignava-se. “Adoro o Rio, mas hoje só saio com um objetivo, por causa da violência”. Um contraste grande com o submundo que conheceu, onde “a arma do malandro era a saliva, o papo, a baba de quiabo”. Dizia que “antigamente, você deixava o carro aberto e o máximo que entrava era mosquito. Crime era só passional. Hoje, nas ruas, só tem punguista, ladrãozinho barato. Tem menino de 16 anos que está emprenhando gente e na hora em que comete um crime diz que é de menor”.

Praça Onze: roda de samba com rasteira e rabo-de-arraia

A CARREIRA
Foi dirigindo táxi que encontrou seu caminho: “Nessa época, meu principal passageiro era o compositor Ismael Silva. Foi o Ismael quem botou na minha cabeça a idéia de me transformar em cantor. Graças a ele gravei meu primeiro disco”, declarou Moreira em entrevista à Revista do Rádio, em 1965. “Nesse tempo eu cantava muito nas horas vagas. Era seresteiro, dava o meu recado”. Sua primeira incursão em disco foi na Odeon, onde gravou dois pontos de macumba de Getúlio Marinho (Ererê e Rei de Umbanda, de 1931). “O Getúlio me chamou e disse: Moreira, quero usar sua voz para gravar para mim”. Mas gravar música de macumba deixou o mulato cabreiro. “Eu não sou supersticioso, mas me veio um troço assim… Então, sai dessa, malandro, disse para mim mesmo”. (Havia motivo para a cisma: “Já vi o sobrenatural”, disse, fazendo referência a uma aparição com a qual deparou aos 19 anos, quando chegava em casa, na rua Major Ávila. Uma mulher de preto surgiu à sua frente e desapareceu em seguida.)
O primeiro sucesso veio com Arrasta a Sandália, de Aurélio Gomes e Baiaco (malandro histórico e compositor da Deixa Falar, a primeira escola de samba), em 1932. Em 1934, passou a integrar o casting do Programa Casé, na rádio Philips. No ano seguinte, estourou com Implorar, de Kid Pepe, Germano Augusto e J. Gaspar, pela gravadora Columbia. Moreira afirmava que a primeira parte desse samba era dele e que J. Gaspar “herdou” seus versos. Em 1937, César Ladeira o viu cantar no Cassino Atlântico, que ficava no posto 6, em Copacabana, e o levou para a rádio Mayrink Veiga. “Todo mundo corria para casa para me ouvir cantar, como hoje corre para ver novela”, dizia sem modéstia. “Quando anunciavam o nome do Moreira numa boate de lona (circo), aquilo enchia”. Um ano depois, retornou à Odeon, onde gravou Acertei no Milhar, de seus amigos Wilson Batista e Geraldo Pereira.
Em 1939, levado pelo cantor português Manuel Monteiro, viajou a Portugal, onde se apresentou no teatro Politeama (“O navio jogava mais que viciado em corrida de cavalo”). Foi um sucesso: “Abafei, com meu passinho de malandro”. Agradou tanto que fez uma participação no filme A Varanda dos Rouxinóis. A década mudou e ele embarcou numa seqüência de sucessos. Gravou Amigo Urso, em 1941, Fui a Paris (Moreira e Ribeiro Cunha) e Dormi no Molhado (Moreira), em 1942. No ano seguinte, gravou Conversa de Camelô, de T. Silva e S. Valença. Em 1950 foi contratado pela rádio Tupi, do Rio, e lançou seu primeiro long-play, pela gravadora Santa Anita. Em 1958 fez um novo retorno à Odeon, onde gravou o segundo LP, O Último Malandro, em que se destaca o clássico Na Subida do Morro (Moreira e Ribeiro Cunha). Moreira canta Na Subida do Morro com Roberto Carlos:


Moreira: novidade no reino dos vozeirões   

UM CANTOR DIFERENTECantar numa época em que as ondas do rádio eram dominadas por canários como Chico Alves e Sílvio Caldas, intérpretes sutis como Mário Reis e afetados como Carmen Miranda, – “no tempo em que cantor tinha que esticar a veia do pescoço” – era um desafio gigantesco para Moreira. Mas encarnando a imagem dos malandros autênticos, terno de linho branco HJ-S 120, sapato bicolor (“de pelica, ou botinha com botões de madrepérola”) e chapéu panamá, o marido de dona Mariazinha convenceu e cavou seu lugar ao sol. Moreira levou as melodias sincopadas de Geraldo Pereira ao radicalismo do samba-de-breque em clássicos como Na Subida do Morro. Ele mesmo atribuía pouca importância à sua criação. “Eu queria mesmo era ser advogado, ter o dom de falar como o Carlos Lacerda”. Dizia que foi por acidente que o breque apareceu, durante um show num cinema do subúrbio carioca do Méier, em 1936. “Foi por acaso, como quase todas as descobertas dos cientistas. Eu estava cantando um samba fraquinho e decidi interromper e improvisar umas falas só para brincar com a platéia”, disse. “O Tancredo Silva me deu um samba de quatro linhas (Jogo Proibido) e eu improvisei em cima: ‘Meto a solingen na garganta do otário e ele geme, ai, ai, meu Deus. Não posso mais. Vou me acabar’. Aí nasceu o breque”, declarou ao Jornal do Brasil, em 1972. “O público aplaudiu de pé, e eu pensei: é aí que está o petróleo, malandro. Vou meter a sonda”. Foi o ponto de partida para seus sucessos no gênero que fez o inferno na vida de um violonista conhecido como Frazão, numa história que entrou para o folclore musical brasileiro. Depois de acompanhar Moreira num show no Teatro Olímpico, o músico virou-se para o cantor e bronqueou: “Foi a primeira vez que acompanhei conversa”. Estava criado o rap caboclo, muitas décadas antes do Public Enemy. “O Luís Barbosa já cantava esse samba fazendo uma espécie de breque corrido”, afirmou Moreira em entrevista à revista Ele & Ela (maio de 1982). Moreira teria dado o breque geral, falando de improviso sem acompanhamento de instrumentos. Seu segundo samba-de-breque é o pouco conhecido Fui a São Paulo:

Eu fui a São PauloAssistir uma partidaDa famosa Copa RocaEm companhia da MarocaFiquei satisfeitoDe ver nosso time se desenvolverTraçando o couro pra valer…

     
Moreira vira o Rei do Gatilho:
https://www.youtube.com/watch?v=KGxyqg4I44k


MORENGUEIRA

Depois veio Doutor em Futebol, em que mostrava que para ter nome não era preciso ser diplomado: “Basta saber controlar o caroço com inteligência”.  Seu último sucesso, já na década de 60, foi o samba O Rei do Gatilho, de Miguel Gustavo, cuja letra falava de um caubói que, como o Zorro americano, tinha por companheiro fiel um índio. Era o Kid Morengueira, que passou a ser o apelido que o acompanhou pelo resto da vida. Miguel Gustavo compôs outros sambas em sequência à série que falava das aventuras do herói brasileiro: O Último dos Moicanos, Os Intocáveis, Moreira Contra 007 e O Seqüestro de Ringo. Foi um renascimento do sambista, que graças à parceria com Miguel Gustavo reconquistou as ondas do rádio, “já agora junto ao público mais sofisticado da Zona Sul do Rio de Janeiro, graças a letras que exploravam situações engraçadas mais próximas do interesse da chamada classe A”, fuzilou o crítico José Ramos Tinhorão, com sua opinião de pedra. Coincidência ou não, é nessa época (1968) que Moreira se apresenta pela primeira vez numa boate da Zona Sul, a Chez Toi. 
Mas os tempos já eram outros. No final dos anos 60 ele se queixava da concorrência dos “cantores cabeludos que estão dando sopa e que cantam até de graça para aparecer nos programas”, dizia, ressentido com a televisão. Em entrevista a Ilmar Carvalho, do Correio da Manhã (9 de abril de 1970), ele se dizia feliz com a venda de seus dois últimos álbuns (Os Sucessos de Moreira da Silva Continuam, 1968 e Manchete do Dia, 1969, só com sambas inéditos) lançados pelo selo Cantagalo: 30 000 discos. “Isso porque a gravadora não tem um plano de relações públicas (sic) e vendas para o Rio, onde tenho um público bom e fiel”, dizia. E explicava seu novo rompimento com a Odeon: “Apareceu gente mais nova, ótimos profissionais, e os mais antigos, como eu, ficaram no come e dorme, sem cobertura da gravadora”, resignava-se. “Creio que Vôo Espacial vai fazer o sucesso de Amigo Urso“, sonhava o velho malandro, citando uma das faixas do disco Manchete do Dia. “O sucesso corre como água de regato. Às vezes pára um pouco, faz aquele remanso, mas a onda vem de novo”, diria em depoimento no Museu da Imagem e do Som, em 1967. Mas o sucesso já era coisa do passado.

  FINAL DE CARREIRA DE MALANDRO?

“O malandro, aquele malandro velho, sucumbiu”, pontificava Moreira sobre a criminalidade daquele início de anos 70, numa frase que soava como uma auto-referência. “Hoje, infelizmente, o que tem é bandido, assassino”, diria anos depois. Mas ele ainda tinha muita lenha para queimar. Em 1970 a EMI-Odeon relança, pelo selo Imperial, o LP A Volta do Malandro, que abre com sua fantástica interpretação de Gago Apaixonado, de Noel Rosa, compositor a quem sempre foi fiel. Em 1971, gravou Moreira da Silva na Academia, alugou um fardão e dirigiu-se para a Academia Brasileira de Letras. Austregésilo de Athaíde, o presidente da casa, não gostou da piada e barrou sua entrada. Sua briga com a ABL prosseguiu até 1984, quando gravou Clã dos Imortais, do jornalista William Prado, criticando o sistema fechado da entidade, que não aceitava mulheres.

 Em 1973, Ivan Cardoso rodou o documentário Moreira da Silva:    

 No mesmo ano, Moreira gravou pela CID o disco Consagração de Moreira da Silva, sem qualquer sucesso. Mas garantia que seu burro estava na sombra: “Hoje não sou rico, mas ganho 5 000 cruzeiros por mês com direito a aumento, tenho direitos autorais, fundo no banco e apartamentos, um na rua do Senado e outro onde mora minha filha”.  Já naquela época o mercado para o samba tradicional era São Paulo: “Aqui (Rio) urubu está voando baixo. Em São Paulo atuo no Canal 7 e na TV Cultura. Até recebi uma medalha de ouro na boate Jogral, onde só se toca samba tradicional”. Mas a pancada vinha embutida: “Só que gravam tapes para todo o lado e não nos pagam”. A televisão já era a televisão. “Não posso me queixar da vida. Tenho uma rendazinha que dá para enfeitar o babado”. Em 1976, o velho malandro começou uma nova fase. Retornou aos palcos ao lado de Jards Macalé (“É meu único aluno”). Apresentaram-se juntos no Projeto Seis e Meia, do Teatro João Caetano. No ano seguinte, inauguraram o Projeto Pixinguinha. Passaram a fazer shows por todos os cantos. Em 1979, participaram de um festival promovido pela extinta TV Tupi, com o samba, única parceria da dupla, Tira os Óculos e Recolhe o Homem, que foi classificado, o que lhes valeu uma vaia da torcida dos novos artistas, que afinal eram o alvo do concurso. A vaia não o abateu, mas ficou indignado: “É a primeira vez que sou vaiado, pô!”. Era fichinha para ele. Seu lugar no panteão dos grandes da música brasileira já estava garantido como o criador do samba-de-breque, um gênero que marcou época. Em 1987, voltaram a fazer shows juntos, em comemoração aos dez anos do Projeto Pixinguinha – e voltam a excursionar. Ainda em 1979 lançaria pelo selo Jangada (EMI/Odeon) o LP O Astro, “Talvez o melhor disco da carreira de Moreira”, no dizer de Tinhorão. No final do mesmo ano lançou novo disco, O Jovem Moreira, pela Polygram, em que regrava Diplomata, de Henrique Gonçalves, composto em 1939 e Homenagem a Noel, de sua autoria. Seu próximo álbum só apareceria sete anos mais tarde, pela Top Tape: Cheguei e Vou Dar Trabalho (1986), em que inova ao oferecer 18 faixas aos seus fãs, entre elas – surpresa – A Volta do Boêmio (samba-canção de Adelino Moreira, lançado em 1956, grande sucesso na voz de Nelson Gonçalves) e Último Desejo (Noel Rosa, 1937), em que relembra seus dotes de seresteiro. Ouça:

   

 Nesse disco dá nova roupagem a outro samba-canção, As Rosas Não Falam, clássico de Cartola. Aos 84 anos ele já não era o mesmo cantor que encantou multidões pelas ondas do rádio. “Um tanto forçado nas passagens de nota, é verdade, mas ainda eficiente nos graves”, analisaria o crítico Tárik de Souza. Mas ele seguiria em frente. Em 1989 entrou em estúdio com músicos do naipe de Dino Sete Cordas e Mauro Senise, para gravar o LP 50 Anos de Samba de Breque, pela CID/Fama. Nesse disco regrava mais uma vez Na Subida Do Morro, O Rei do Gatilho e Acertei no Milhar. E ainda a crônica do sufoco do Rio às voltas com as enchentes em Cidade Lagoa (Cícero Nunes e Sebastião Ferreira).

1989: 50 anos de samba de breque

DON JUAN

Desde que a mulher morreu, em 1983, o sambista não descansou. “Se pudesse, teria um harém, nem que fosse só para olhar”, disse a O Globo. “Nunca prestei. E depois que começou a carreira artística, então… Mas sempre amei a minha mulher”, confessou. Moreira entrou nos anos 90 ao lado de Denise Conceição, uma morena de apenas 24 anos de idade. “Estamos casados pela lei Divina”, babava ao lado da mulher com quem dizia estar tendo um caso havia cinco anos. Ou seja, ele tinha 83 anos quando conheceu Denise com 19. “Já legalizei a situação de Denise no INSS e lhe dei uma pensão de 35 000 cruzeiros, além de uma casa em Saracuruna, subúrbio do Rio, e vou colocá-la também no Iaserj para ter seus direitos garantidos”, cuidava ele. Mas continuaram morando separados. “Ela me chama de meu amor olhando nos meus olhos”, acreditava o velho malandro.
Não permitia que a filha e o genro interferissem na relação. Para quem imaginava que ele estava fazendo papel de tolo, o velho sambista dava o breque: “Eu encaro até hoje, pois sou protegido pelas almas benignas. Meu nome é Antônio Moreira da Silva, noventa e um anos, corpo limpo, sem varizes, afogando o ganso com cara de pavão misterioso. Tomo chá de jurubeba com alcachofra e faço exames periódicos”.  Embalado nos braços de Denise, ele fez em maio de 90 uma série de shows na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio. Em junho, estréia temporada curta no Jazzmania. No mês seguinte deu um depoimento ao Museu do Carnaval, no módulo Velha Guarda, entrevistado por Ricardo Cravo Albim, Osmar Frazão, Aidran Galvão, Vani Bayon e Tárik de Souza. O jornal O Globo (30 de julho de 1990) registra algumas frases do depoimento: “Tem um tal de Cabral que aparecia todos os domingos de carnaval lá em casa para comer feijoada. Hoje, ele só me escreve para pedir voto”.
Em 1991, Moreira foi escolhido pela prefeitura do Rio de Janeiro, para inaugurar com um show a reurbanização da Lapa, o velho reduto da malandragem, dos bares e cabarés. O então prefeito, Marcello Alencar, fez questão, já que o artista representaria o verdadeiro espírito do bairro. O rei do breque atendeu com naturalidade à convocação: “Sou um símbolo carioca”. Mas ele diria mais tarde que nunca foi de frequentar a Lapa. “Eu freqüentava o mangue. Parava o táxi e namorava as prostitutas. A Lapa era um refúgio de artistas que moravam longe e iam dormir com as prostitutas”. Mesmo assim, ao ser convocado, falou com hilariedade dos bons tempos do bairro: “Os táxis faziam ponto perto do lampadário. Havia os botecos, a leiteria da Rua Visconde de Maranguape, os cabarés. A rapaziada corria atrás das mariposas da Rua Joaquim Silva. Uma vez, quando eu era motorista de táxi, peguei um freguês que me disse precisar de uma mulher. Fui à Joaquim Silva e botei uma mulher no carro. Seguimos para a Vista Chinesa, mas quando chegamos lá o cara tinha dormido. Eu, então, executei a lebre”.


Nos anos seguintes comemorou seus 90 anos com um show na boate People, e os 91 no Jazzmania, no Rio. Estava em plena atividade. Em 1993 lançou Moreira da Silva Fotografando a Cidade, o primeiro CD, em que reuniu os sucessos do período 1958-60, pela EMI/Odeon. E novamente grava Na Subida do Morro e Olha o Padilha. Regrava também Conversa de Botequim, de Noel Rosa e Pistom de Gafieira, de Billy Blanco. Em outubro, abriu a série de shows do Projeto Cultural da Caixa, no Teatro Nelson Rodrigues. Em 1995, comemorou seus 93 anos na Ritmo, no Rio, com um show em que cantou vinte de seus sambas mais conhecidos. Durante o espetáculo, foi entrevistado pelo jornalista Sérgio Cabral. O afilhado Jards Macalé subiu ao palco mais uma vez com seu professor, para dele receber o bastão (o chapéu panamá), pois o mestre estava oficialmente abandonando os palcos. “As pernas estão ficando bambas e, se não dá para sambar, não tem mais graça”, lamentava-se. “É uma honra ser herdeiro de uma crônica viva do Rio”, declarou Macalé. Fazia vinte anos que os dois haviam dividido pela primeira vez um palco, no show do Teatro João Caetano. A triste despedida de Moreira não foi triste nem despedida. Já no ano seguinte ele cantou no pequeno palco do bar Vou Vivendo, de São Paulo, um reduto do melhor samba encravado numa esquina da Avenida Pedroso de Moraes, no bairro de Pinheiros. Embalado pelo sucesso do CD Os Três Malandros, que dividiu com os sambistas Bezerra da Silva e Dicró, seu último disco, lançado no ano anterior, Moreira não perdeu a irreverência e aproveitou para dar um chega-pra-lá no neo-samba da terra da garoa: “Só vale o balanço”.

Com Dicró e Bezerra: na cola dos três tenores:

  Em 1996, finalmente, sai a primeira biografia de Moreira da Silva, O Último dos Malandros, do jornalista baiano Alexandre Augusto Gonçalves, pela editora Record, baseada em depoimentos do sambista. O jornalista João Máximo chamou a obra de livro de fã. Para ele faltou a análise da música de Moreira. Máximo divide a obra de Moreira em duas fases. A dos grandes sambas com grandes parceiros – Amigo Urso, Acertei no Milhar – e a da saturação, com a repetição de falas já manjadas no momento do breque. Nesta segunda fase a temática empobrece. “O Moreira do 007, do filme americano, do último dos moicanos, já não tinha o mesmo apelo”, disse na resenha do livro. “Nos seus últimos tempos em forma, era preferível ouvi-lo reviver Cigano, de Lupicínio, a emparceirar-se com Macalés, Dicrós e Bezerras”, escreveu o jornalista. Mais conhecido das novas gerações exatamente pela sua fase Miguel Gustavo, não há como negar que o melhor do Moreira é exatamente o que foi gravado na chamada época de ouro da música brasileira, os anos 30 a 50.
Seus 96 anos foram comemorados em grande estilo. Pela manhã, tomou café com crianças carentes assistidas pela Legião da Boa Vontade. Queria se lembrar dos tempos difíceis da infância. Depois, Jards Macalé e Ellen de Lima cantaram para ele seus antigos sucessos, no Teatro João Caetano. De lá, caminhou acompanhado por uma banda para um almoço no tradicional Bar Luiz, na Rua da Carioca. Moreira ainda ganhou um par de sapatos brancos de uma loja do centro e uma homenagem da Sociedade Amigos da Rua da Carioca. Dois anos antes de sua morte, o velho Morengueira sonhava figurar no Guiness Book of Records, como o cantor mais velho em atividade. E vivia a expectativa do lançamento na Austrália e em Portugal de alguns dos 26 álbuns que gravou ao longo da vida. Ainda ativo, tinha na gaveta o samba-de-breque Pra Fazer 97, em parceria com Reginaldo Bessa e Ecologia, com Aidran do Grajaú. Foi com Bessa que ele se apresentou numa temporada no Vinícius Bar, no início de 1997.

Disco novo sucesso antigos: busca do sucesso passado

LÍNGUA NÃO TEM OSSO

Moreira nunca foi de fazer média. Deitou falação sem travas na língua. Para ele “a batida da Bossa Nova é quase a de rumba”. Caetano Veloso queria mesmo “é rebolar, um atrevido. Imagine que outro dia ele criticou a Aquarela do Brasil por causa da palavra inzoneiro. Ora, quem é Caetano Veloso para falar de Ary Barroso?”, tascou. “Tião Motorista é que é o bom da Bahia”. E mais: “Edu Lobo e Tom Jobim são razoáveis”, disse à revista O Cruzeiro, em dezembro de 1968. “Gosto mesmo é de serestas e das baladas do Agnaldo Timóteo”, feriu o malandro. “Gosto do Roberto Carlos, mas não gosto do seu Jesus Cristo, uma jogada com o nosso Pai para ganhar dinheiro”, castigou em outra entrevista. “O Chico Buarque é o Noel muito devagar”. Paulinho da Viola? “É ainda água-com-açucar. É sofrível”. E tome polca: “Outro dia eu vi aquela menina, a Gal Costa, uma porcaria, ela é neutra”. Martinho da Vila: “É sempre aquilo que você tá vendo aí. Inclusive o Batuque na Cozinha não é dele não. Isso é mais antigo que Dom Pedro II”. Elis Regina: “Eu sou melhor do que ela em qualquer parte do mundo que a gente bater”. Donga é que era o tal: “Foi um cara bom. Grande compositor e tocava violão muito bem”. Mas ele também levou troco. Rigoroso com os outros, sofreu o rigor do também longevo Carlos Cachaça, o grande mangueirense. “Os sambas dele eram mais comerciais, mais rentáveis. Nem as minhas parcerias com Cartola renderam muito dinheiro”.
Moreira também deitou falação contra os meios de comunicação. “No rádio é que é o jabaculê. O disc-jóquei leva o dinheiro e diz que está em primeiro lugar. Tudo grupo, entende?”, disse em entrevista ao Pasquim, na década de 70. “Na TV a coisa funcionava diferente.


A Tupi combinava 700 cruzeiros (de cachê). Quando chegava lá, um cara dizia: ‘escuta, o rapaz que te telefonou disse que era 700, mas só pode ser 500’”. Desse tempo para cá a coisa piorou bem. O cachê minguado cedeu lugar ao pagamento feito pelo artista ou pela gravadora para divulgar a música. No começo dos anos 70, Moreira soltou as cobras contra o apresentador Abelardo Barbosa, o Chacrinha: “Há 40 anos mandei fazer dois ternos pra ele, cantei com amigos de graça para arranjar-lhe uma nota, que ele estava duro. Hoje, o malandro não paga e até quer que a gente pague para se apresentar no seu programa”. Incisivo com os colegas, ele pegava leve com o poder. Gravou um samba em homenagem a Getúlio Vargas, quando o Brasil declarou guerra ao eixo: “Minha bandeira foi ultrajada, temos um homem de fibra, Getúlio Vargas, posso empunhar um fuzil pela honra do meu Brasil”, babou no chapéu panamá. Gostou do velhinho até o fim: “Foi o único político que eu vi apertar a mão de um lixeiro”, justificava. Para Juscelino Kubitschek gravou Cutuca, Nonô, de Miguel Gustavo. Não gostava de agitação: “passeata não resolve”. E chegou a se candidatar a vereador pelo PTB do antigo Distrito Federal, levando apenas 400 votos: “A moçada parece que não acreditou em mim”.

Panamá e terno de linho branco HJ-S 120: conquistador


Se o povo o tratou mal, o Estado o tratou bem. Aposentou-se em 1959 como encarregado de garagem, mas desde que se tornou um artista consagrado não desempenhava a função. “Os colegas tiravam meu plantão”, declarou ao Pasquim. Moreira não era político, não militava, mas suas músicas revelavam em crônica as desigualdades e a injustiça social, sem panfleto. Insurgiu-se de leve contra a invasão da música estrangeira. Ao jornal Opinião exibiu, em 1976, seu nacionalismo corporativo: “Uma estação de rádio não é uma propriedade definitiva, aquilo é um veículo de propaganda (sic) que pode levar até a envenenar a nossa pátria”. Em 1984 gravou Moreira Já, de William Prado, um samba pelas eleições diretas, lançado com 1 500 compactos durante show no Mistura Fina, em Ipanema. Do outro lado do disco, o samba com que espicaçou a Academia Brasileira de Letras. “Afinal de contas, sou pelas eleições diretas”, justificou. Moreira confessou ter votado em Lula para presidente: “O FHC eu não gosto, parece que vai descontar dos aposentados”.  Cruel crítico dos colegas, louvador de presidentes e amante das eleições livres, Moreira era coluna do meio na questão do direito autoral. Perguntado no Pasquim pelo produtor e crítico Mariozinho Rocha se tinha queixas do órgão arrecadador, foi pelo caminho suave: “Não, não, não. Aí eu sou neutro. Sabe como é que é…”, desconversou. Seu comportamento tinha outra explicação: era conselheiro da SBACEM, órgão responsável pelo recolhimento de direitos autorais.   

SAMBAS PRÊT-À-PORTER

A autoria da obra de Moreira como compositor era questionada por ele próprio: “A necessidade faz o sapo pular”, dizia. “Já vendi e comprei muito samba”. No começo da carreira, não: “Naquele tempo eu não era muito esperto para pedir parceria, hoje eu peço”, confessou em 1973. Moreira falava com tranqüilidade sobre o comércio de sambas: “O esquema de entrar é o seguinte: o sujeito chega perto e diz: Moreira, eu tenho este samba aqui, pode ter esquema de entrar… Quem me vendeu muita música foi o Zé Com Fome (o compositor José Gonçalves, também conhecido como Zé da Zilda, sua mulher, compositora que por sua vez se assinava como Zilda do Zé)”. Ele conta que pagou 150 mil-réis pelo samba Dormi no Molhado, do Zé da Zilda. “O Francisco Alves comprava”, entregou na mesma entrevista. Ao jornal Opinião confessou ter recebido de presente a parceria do samba A Carne, de Nelson Cavaquinho. “Ele andava na pior, sem amparo. Ele vendia por qualquer preço a música dele. Ele vendeu para um rapaz, o Roxo”, disse. Foi das mãos de Roxo que Moreira ganhou a parceria em troca de gravar o samba. Em depoimento ao Museu do Carnaval, em 1990, ele seria franco e direto: “Paguei um conto e trezentos mil-réis ao Geraldo Pereira por uma música. Era um bom dinheiro. Mas quando ele estava sem nenhum para pagar o quarto, me vendia por 150 mil-réis, confessou. “Comprar música é subjetivo. Desde o começo da música os compositores vendem suas canções”, justificava.

Zé da Zilda e Zilda do Zé: músicas vendidas   

ENCARANDO A PERPÉTUA

Moreira dizia não ser saudosista, mas viveu se queixando das novidades que surgiram no meio musical, às quais atribuía o fim de seu reinado: “Um Ari Barroso, um Noel Rosa, a gente tem que respeitar. Esses meninos de hoje são muito água-com-açucar”. No mais, se conformava. Só estranhava a explosão demográfica: “Tá nascendo gente pra danar”. Recebeu o ano 2000 sem cerimônias. “Velhice para mim não existe. Parece que cheguei ontem ao planeta”, dizia. Aos 97 anos, sua visão da virada do milênio era trivial: “O que vier eu traço. Enquanto São Pedro não manda a ordem de captura, eu vou vivendo com habeas-corpus preventivo”. Da janela do apartamento no Catumbi, onde vivia sozinho desde que Mariazinha morreu, em 1983, ele mirava o cemitério, onde o jazigo número 6 o esperava. “Meus futuros guardiães, que trabalham ali embaixo, me saúdam: não tem aparecido, seu Moreira. Eu fico meio cabreiro e vou saindo de banda. Sai pra lá, mamão”, esconjurava. Mas não temia e até desdenhava da perpétua: “O futuro é uma caveira”. E cantarolava: “Para fazer 97/Tem que ser malandro/Quem não pode, não se mete/Que o bicho tá pegando”. Atribuía sua vitalidade a uma mistura bem brasileira, mas com nome gringo: “black and white”. Não o uísque, que como já se viu não era seu forte. “Minha mãe era black e meu pai era white”.

“O futuro é uma caveira”

Moreira viveu seus últimos dias com o que recebia da pensão como chefe de garagem do antigo Estado da Guanabara e de uma pensão de compositor e cantor pelo INSS. Algo como 1.200 reais. “Dá pro gasto”, conformava-se. Além, é claro, dos cachês de shows que fez até o fim. No apartamento do Catumbi, ele via o tempo passar pela janela sem maior afetação, na manha do gato, mamando e miando: “Passo a maior parte do tempo deitado, só levanto para ver novela e futebol”. Não tinha condições de andar pelas ruas do Rio, como gostava. As pernas não se sustentavam mais. Tempos atrás ele se levantava, tomava o café-com-leite e saía para jogar no bicho, conversar com os vizinhos e passear pela região central da cidade. Ia à Cinelândia, tomava uma mineral no Amarelinho, comia um ensopado de quiabo batizado com seu nome no Paisano, como registrou a revista de Domingo do Jornal do Brasil em março de 1992. Agora, quando saía, era de táxi. “Estou com um pouco de dificuldade para andar por causa de uma cucaracha (barata) que matei na banheira e acabei caindo”, queixava-se. Apesar disso, Bessa estava produzindo o que seria seu último disco. E a saúde parecia estável. “Há pouco tempo fiz um check-up e estava tudo certo: triglicerídeos, colesterol… Minha pressão é 12 por 8″, dizia, atribuindo sua forma ao ginseng para o corpo e ao Advil para a dor-de-cabeça.
Morreu de falência múltipla dos órgãos, no Hospital dos Servidores do Estado, no Rio. Com sua morte, aos 98 anos de idade, foi-se embora o último malandro. Malandro daqueles cantados por Jorge Ben Jor, que sabem que é bom ser honesto e são honestos só por malandragem. No idioma de Morengueira: “Se um vigarista soubesse quanto é gostoso estar do lado da lei, se tornaria honesto só por vigarismo”. Este era o retrato fiel do Moreira. “A malandragem nunca existiu para mim. Sou um bípede mamífero que sempre trabalhou”, pontificava. “Hoje estou humildemente, modestamente, na história do samba”. Não teve filhos (“Fiz uma vasectomia natural por causa de tanta farra”), mas adotou Marli, que lhe deu dois netos. Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Jards Macalé, Elza Soares, Bezerra da Silva e Sandra de Sá, entre outros artistas, prestaram-lhe homenagem póstuma num grande show no Canecão.

Revertere ad locum tuum




VEJA.COM 06/06/2010

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