Com o ritmo na voz
mostra que tem suingue também
como cantor em ”Pra Gente Fazer
Mais Um Samba”
Por Julio Cesar Cardoso de Barros
O carioca Wilson das Neves, que lança Pra Gente Fazer Mais Um Samba. Na percussão, ele já acompanhou Chico Buarque e Simonal
O baterista, compositor e cantor Wilson das Neves, 74 anos, está em plena forma e esbanja suingue em Pra Gente Fazer Mais Um Samba. O disco reúne um grupo de instrumentistas de primeira linha para dar sequência à sua tardia, porém brilhante, carreira de cantor, que começou em 1996, com o CD O Som Sagrado de Wilson das Neves, e avançou em 2004, com Brasão de Orfeu. Na faixa título do novo disco, o trombone generoso de Vitor Santos abre para a entrada serena de Wilson, cantando, com “gosto de orvalho”, uma “doce lembrança”. O violão delicado de Cláudio Jorge sustenta o pagode de Arlindo Cruz em Não Dá. Em Outono Chegou, um samba tradicional, João Carlos Rebouças faz contratempos sutis ao piano. E o CD avança com sambas cantados com a sobriedade do intérprete, que brinca com a divisão em meio a um instrumental de bases limpas e passagens arrojadas. Quando toca Estava Faltando Você, que retoma a parceria com Délcio Carvalho (o eterno companheiro de dona Ivone Lara), o violão de Cláudio Jorge e a flauta de Zé Bigorna seguem uma bateria que faz justiça ao mestre, nas baquetas de André Tandeta. O piano de Rebouças é a cereja do bolo. Wilson é doce, mas não é mole, não. Sob seu venerável talento, até Nelson Rufino aposenta a levada baiana e se curva ao cool de Minha Trajetória. Em se tratando de Wilson das Neves, o verde da esperança e o branco da paz - cores de sua escola de samba, o Império Serrano - não poderiam faltar. Aparecem na poesia de Velha Guarda do Império, um samba que honra a tradição da Serrinha de Silas de Oliveira e Mano Décio.
Wilson das Neves nasceu no Rio de Janeiro, em junho de 1936. Aos 14 anos, já batucava na Escola Flor do Ritmo, no subúrbio carioca do Méier, e aos 21 assumia o comando da bateria na Orquestra de Permínio Gonçalves, em que outros grandes nomes da MPB, como Leny Andrade, deram o pontapé inicial à trajetória artística. Atuando profissionalmente desde a década de 1950, em shows e gravações com artistas como Elza Soares, Chico Buarque, Elizeth Cardoso, Wilson Simonal, Roberto Carlos e Ataulfo Alves, ele ganhou prestígio e passou logo a ser o preferido de dez entre dez figurões da MPB, sendo uma referência em matéria de ritmo.
No final dos anos 60, ele montou seu próprio grupo e gravou discos instrumentais, nos quais o som suingado convidava para dançar. A estreia dessa fase foi com o LP Juventude 2000 (1968), reunindo músicas em versões bem balançadas de Tom Jobim (Wave), Baden Powell e Vinícius de Moraes (Tem Dó), entre outros. De lá para cá, saíram mais oito álbuns, muito pouco para tanto talento, como se comprova nesse Pra Gente Fazer Mais Um Samba.
Julio Cesar de Barros é editor sênior da revista Veja e mantém o blog Passarela, no portal Veja.com.
O DISCOPra Gente Fazer Mais Um Samba (MPB/Universal), de Wilson das Neves. Preço médio: R$ 28.
Revista Bravo – Nº 156 – Agosto de 2010)
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