segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

EDUARDO GUDIN

O melhor samba de Sampa

Por Julio Cesar Cardoso de Barros


O compositor Eduardo Gudin completou sessenta anos  no dia 14 de outubro de 2010. Para comemorar, ele se apresentou no SESC Vila Mariana acompanhado de um grande time de intérpretes de suas canções e de uma constelação de músicos de primeira grandeza. Participação da cantora Leila Pinheiro, do parceiro J. C. Costa Netto, do biólogo do samba Dr. Paulo Vanzolini, de Ana Bernardo, do poetaço Paulo César Pinheiro e da voz aveludada de Márcia. P. C. Pinheiro e Márcia são companheiros do show O Importante É Que Nossa Emoção Sobreviva, que Gudin apresentou no Teatro Oficina, em São Paulo, em 1974. A ele se juntou ainda Arrigo Barnabé, Roberto Riberti e Toquinho, parceiros de longa data. Barnabé surgiu para o grande público no I Festival Universitário da TV Cultura, uma criação de Gudin, em 1978.



Exímio violonista, compositor e arranjador, Gudin é autor da mais bela música em homenagem a São Paulo. A urbana Paulista (com J. C. Costa Netto), que supera, sem dúvida, Trem das Onze, Ronda e Sampa como retrato da verdadeira capital bandeirante. Ele iniciou a carreira muito cedo. Em 1966, aos 16 anos de idade, participou do programa O Fino da Bossa, de Elis Regina e Jair Rodrigues. Sua qualidade de violonista impressionou e lhe valeu um contrato com a emissora. Estava no lugar certo, na hora certa. A Record era a emissora dos grandes festivais de MPB e ele aproveitou a oportunidade e fez daquele tipo de competição o caminho para fazer deslanchar sua carreira.
Em 1968 participou do IV Festival de Música Popular Brasileira, com Choro do Amor Vivido (parceria com Walter de Carvalho, com arranjo de Hermeto Pascoal), defendida pelos Três Morais. No ano seguinte, Márcia defendeu lindamente o seu Gostei de Ver (c/ Marco A. da Silva Ramos). O samba ficou em quarto lugar mas, em 1970, no IV Festival Universitário da TV Tupi, E lá se Vão Meus Anéis (c/ Paulo César Pinheiro) lhe garantiu a primeira colocação, abrindo caminho para uma carreira que o colocou no escaninho dos grandes nomes da nossa música, tendo suas canções – em composições solo ou em parcerias ricas com Paulinho Pinheiro, Costa Netto, Hermínio Belo de Carvalho, Sérgio Natureza, Aluízio Falcão, Paulo Vanzolini, Roberto Riberti, Aldir Blanc, Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Arrigo Barnabé, Cacaso e Guinga – gravadas por intérpretes do porte de Clara Nunes, Gal Costa, Márcia, Vânia Bastos, Leia Pinheiro, Beth Carvalho, Fátima Guedes e muitos outros.


Em 1973, lançou pela Odeon Eduardo Gudin, o primeiro LP. Com arrranjos de Hermeto Pascoal e José Briamonte. O resultado do espetáculo O Importante É Que Nossa Emoção Sobreviva, de 1974, rendeu-lhe dois outros LPs, lançados em 1975 e 1976. Em 1978, mais um disco: Coração Marginal, agora pela Continental, com a participação do MPB-4, Marília Medalha e Adauto Santos. A década de 70 foi gloriosa para o garoto paulista de cabelos encaracolados e olhos claros que fazia samba sob o olhar vigilante e respeitoso dos cobras do gênero. Embora faça preferencialmente sambas, Gudin não se enquadra no figurino tradicional do sambista. Pode ser descrito como um Paulinho da Viola da terra da garoa. Uma terra de poucos e bons autores de samba, como Vanzolini e Adoniran. Fiel à sua cidade, ele produziu em 1994 o CD Beth Carvalho Canta o Samba de São Paulo, que lhe valeu um Prêmio Sharp. Seu show Eduardo Gudin & Notícias de Um Brasil, de 1997, com Guinga e Hermeto Pascoal, marcou época e serviu de base de lançamento para o CD Notícias dum Brasil – Pra Tirar o Chapéu.


Em 2001, para comemorar a chegada de seus 50 anos, a Dabliú Discos lançou o CD Luzes da Mesma Luz, em que canções suas com seus arranjos para orquestra são interpretados por Fátima Guedes. O trabalho foi gravado no estúdio e apresentado em três noites no palco do mesmo SESC Vila Mariana em que ele se reapresenta agora. No repertório, composições que Gudin avalia como as mais importantes de sua carreira, entre as quais Verde, Apaixonada, Paulista, Velho Ateu, Mordaça e a canção que dá título ao disco. Disco e espetáculo foram muito elogiados. “Embora a qualidade das canções se imponha, algumas de sucesso, uma ou outra ganhadora de festival, é o lado do orquestrador que talvez dê a Luzes da Mesma Luz um caráter tão especial. Gudin brilha como arquiteto e construtor dos sons que uma grande orquestra produz por trás da voz delicada de Fátima”, escreveu o exigente crítico João Máximo, no jornal O Globo. O projeto incluiu CD, shows, especial de TV, exposição, marcando à altura os 33 anos de carreira do artista, na época. “Luzes da Mesma Luz, composições, orquestrações e interpretações do disco – que o show repetirá – resumem, em voz definitiva, a obra de um dos maiores compositores da música brasileira”, escreveu o crítico Mauro Dias, no Estado de S. Paulo. Gudin coleciona clássicos, como Etérea, Maior É Deus, E Lá Se Vão Meus Anéis e Dia de Muito é Véspera de Nada, c/ Paulo César Pinheiro, O Velho Ateu, com Roberto Riberti, a já citada Paulista, com Costa Netto, algumas das quais serão relembrou no show de seus 60 anos.


VEJA.COM 08/10/2010

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