O sambista Diogo Nogueira grava seu segundo DVD na quinta-feira, dia 23 (de julho de 2010),
durante show com convidados no Vivo Rio, na Avenida Infante Dom Henrique, 85,
Parque do Flamengo. No repertório, músicas de seu segundo CD Tô Fazendo a
Minha Parte. Com destaque para a faixa bônus do disco, Malandro é
Malandro, Mané é Mané (de Neguinho da Beija-Flor, gravada anteriormente
por Bezerra da Silva), que fez grande sucesso ao ser incorporada à trilha
sonora da novela Caminho das Índias. Tem também Presente de
Deus, de Fred Camacho e Alceu Maia, um samba rasgado para agradar nos
terreiros*. Sou Eu, de Ivan Lins e Chico Buarque, já é mais para
salão, é um samba bom de ouvir e de dançar a dois. O compositor Arlindo Cruz e o
baterista e cantor Wilson das Neves, duas cobras criadas, fizeram Não
Dá, samba que permite a Diogo exibir seus recursos vocais*.
*O samba
acabou não entrando no novo DVD.
Sou Eu: segundo DVD ao vivo
Diogo Nogueira é um carioca de 29 anos, filho do cantor e compositor João Nogueira (falecido em 2000), neto de João Batista Nogueira, um músico que tocou com Noel Rosa e era amigo de Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Donga e João da Baiana.
Primeiro DVD ao vivo
A mãe, Angela Maria Nogueira e a tia Gisa Nogueira são compositoras e o
primo Didu Nogueira é cantor. Em 2007, Diogo lançou seu primeiro disco e DVD,
Diogo Nogueira ao Vivo, gravado no Teatro João Caetano (RJ), com
músicas suas e antigos sucessos como Poder da Criação, de seu pai, e
Vazio, de Nelson Rufino, gravado originalmente por Roberto Ribeiro,
nos anos 70.
Em 2008 Diogo ganhou o prêmio Multishow de Música Brasileira na categoria
revelação. No ano passado, gravou Tô Fazendo a Minha Parte, o disco que
vai servir de base para o DVD, com algumas músicas inéditas, de sua autoria e de
figurões da MPB e de bambas do samba, como Arlindo Cruz, Zeca Pagodinho e Almir
Guineto. Paralelamente aos shows e gravações, Diogo conquistou em sua ainda
curta carreira o tetra-campeonato do samba-enredo na Portela – o que não é pouco
– e ganhou um programa na TV Brasil: Samba na Gamboa.
O pai, fundador do Clube do Samba e um dos mais expressivos e populares
cantores dos anos 70 e 80, era um tradicionalista. Criticou a invasão do samba
pelos cinturas grossas, no samba Vem Quem Tem (1975), em que dizia:
“Ela desfila na avenida/ Diz ser a preferida, mas não é/ Diz que tem certa veia
de sambista/ Mas a tal artista/ Nem mesmo sabe o que quer”. Diogo, por seu lado,
é eclético, gravou com o rapper carioca Marcelo D2 e a roqueira baiana Pitty.
Fisicamente, Diogo lembra bastante o pai, mas a voz é um espanto de parecida,
tem o mesmo timbre. No palco, parece uma reencarnação modernizada. Mas se alguns
filhos de figurões da música ficam constrangidos quando comparados aos pais
famosos, Diogo parece não ter o menor problema em cantar parecido com João
Nogueira. O forte de João era a divisão e o vozeirão redondo. Era um cantor
originalíssimo, além de bom compositor. Nesse quesito, Diogo ainda tem que
gramar bastante. Mas se seu pai não era exatamente um galã, quando Diogo entra
no palco é um frisson danado. A mulherada fica maluca com seu visual entre o
sambista tradicional, o roqueiro e o surfista, com brincos, tatuagens e roupas
descoladas. Essa imagem mais atual tem trazido para o samba um público que não
tinha grande interesse pelo gênero. As semelhanças entre Diogo e o pai não se
limitam à música. Diogo quase foi jogador profissional de futebol, mesmo sonho
acalentado por seu pai, antes de se dedicar à música. Mas uma contusão tirou o
jovem de campo e o Brasil ganhou um bom intérprete. Essa história remete à
biografia do pai cantada nos versos do samba Espelho (parceria de João
com Paulo Cesar Pinheiro, de 1977), no qual João cantou: “Um dia chutei mal
e machuquei o dedo/ E sem ter mais o velho pra tirar o
medo/ Foi mais uma vontade que ficou pra trás”. Diogo também perdeu o velho
e machucou o dedo, herdando do pai o mesmo destino musical.
Ouça Espelho, com João no telão e
Diogo no palco:
VEJA.COM 20/07/2010
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