O sambista da Vila Matilde
Morreu na madrugada de 4 de
outubro de 2010, no Hospital do Tatuapé, Zona Leste de São Paulo, Alberto Alves
da Silva, o Nenê, que fundou a escola de samba Nenê
da Vila Matilde, em 1949, e foi seu presidente até 1996, quando entregou o
cargo para Betinho, seu filho. Ele tinha 89 anos e era um dos cardeais do samba
paulistano. Mineiro de Santos Dumont, onde nasceu em 24 de julho de 1921, Nenê era o típico sambista da cidade, tendo se
iniciado nas rodas de batucada e tiririca (pernada) no Largo do Peixe, na Vila
Matilde, nos anos 30. Em 1949, juntou um grupo de amigos para fundar a
agremiação que se tornaria uma das mais importantes do carnaval da cidade. As
cores azul e branco da escola e o símbolo, a águia, são inspiração da Portela,
escola carioca que Nenê admirava e que acabou convidando para ser madrinha de
sua agremiação. Batizada pela azul e branco de Osvaldo Cruz, a escola da Zona
Leste importou também uma batida diferente para sua bateria. Nenê, um exímio
ritmista e tocador de tarol e pandeiro, trouxe do Rio e impôs à sua escola uma
levada mais suave e balançada que a característica do samba de bumbo paulista.
Enquanto o couro grosso predominava nos blocos, cordões e escolas paulistanos, o
Rio primava pelo andamento mais lento, gingado e com destaque para os
instrumentos mais leves. Isso fez da bateria da Nenê de Vila Matilde a melhor da
cidade.
Águia,
o símbolo da escola: como a Portela
Sob comando de Mestre Lagrila e, depois, de Mestre
Divino, a escola colecionou notas máximas no quesito e foi responsável por
apresentações magistrais nas passarelas do Anhangabaú, Avenida São João e
Avenida Tiradentes, nos anos 60 e 70. Era o orgulho de Nenê, que enquanto pôde
teve por hábito se postar ao lado do conjunto de ritmistas munido de seu tarol
para batucar um pouco e vigiar o andamento da talentosa orquestra. Outro grande
orgulho de Nenê foi ter sido convidado para levar sua escola ao desfile das
campeãs do Rio de Janeiro, no Carnaval de 1985, quando conquistou o título
paulista pela décima vez (incluindo os títulos do Carnaval não oficial). Mesmo
sem suas alegorias, cujo transporte se mostrou impraticável, a escola fez um
desfile bonito, de samba levado no pé, sem os artifícios plásticos que a haviam
feito campeã paulistana. Ao lado de Inocêncio Tobias, o Mulata da Camisa Verde e
Branco, de Carlos
Alberto Caetano, o Carlão do Peruche, de Pé Rachado, da Vai-Vai, de Eunice,
da Lavapés, de Sinval, do Império do Cambuci, de Mala, da Acadêmicos do Tatuapé,
Eduardo Basílio, da Rosas de Ouro, Rômulo, do Fio de Ouro, Juarez
da Cruz, da Mocidade Alegre, Alberto Alves da Silva, o Nenê, foi um dos
inventores do Carnaval de São Paulo, um dos baluartes do samba da terra da
garoa.
A bateria Nota Dez da Nenê de Vila
Matilde
O velório de Nenê foi na quadra da Escola, na Rua Júlio Rinaldi, 1 –
Penha (Metro Vila Matilde). E o enterro aconteceu na terça-feira, dia 5, às 10
horas, no Cemitério Quarta Parada, no Tatuapé. No dia 17 de
novembro de 2010, Alberto Alves da Silva, o Nenê de Vila Matilde, foi lembrado
em cerimônia na Câmara Municipal de São Paulo.
VEJA.COM 04/10/2010
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