segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

SEU NENÊ DA VILA MATILDE

O sambista da Vila Matilde




Por Julio Cesar Cardoso de Barros


Morreu na madrugada de 4 de outubro de 2010, no Hospital do Tatuapé, Zona Leste de São Paulo, Alberto Alves da Silva, o Nenê, que fundou a escola de samba Nenê da Vila Matilde, em 1949, e foi seu presidente até 1996, quando entregou o cargo para Betinho, seu filho. Ele tinha 89 anos e era um dos cardeais do samba paulistano. Mineiro de Santos Dumont, onde nasceu em 24 de julho de 1921, Nenê era o típico sambista da cidade, tendo se iniciado nas rodas de batucada e tiririca (pernada) no Largo do Peixe, na Vila Matilde, nos anos 30. Em 1949, juntou um grupo de amigos para fundar a agremiação que se tornaria uma das mais importantes do carnaval da cidade. As cores azul e branco da escola e o símbolo, a águia, são inspiração da Portela, escola carioca que Nenê admirava e que acabou convidando para ser madrinha de sua agremiação. Batizada pela azul e branco de Osvaldo Cruz, a escola da Zona Leste importou também uma batida diferente para sua bateria. Nenê, um exímio ritmista e tocador de tarol e pandeiro, trouxe do Rio e impôs à sua escola uma levada mais suave e balançada que a característica do samba de bumbo paulista. Enquanto o couro grosso predominava nos blocos, cordões e escolas paulistanos, o Rio primava pelo andamento mais lento, gingado e com destaque para os instrumentos mais leves. Isso fez da bateria da Nenê de Vila Matilde a melhor da cidade.

Águia, o símbolo da escola: como a Portela

Sob comando de Mestre Lagrila e, depois, de Mestre Divino, a escola colecionou notas máximas no quesito e foi responsável por apresentações magistrais nas passarelas do Anhangabaú, Avenida São João e Avenida Tiradentes, nos anos 60 e 70. Era o orgulho de Nenê, que enquanto pôde teve por hábito se postar ao lado do conjunto de ritmistas munido de seu tarol para batucar um pouco e vigiar o andamento da talentosa orquestra. Outro grande orgulho de Nenê foi ter sido convidado para levar sua escola ao desfile das campeãs do Rio de Janeiro, no Carnaval de 1985, quando conquistou o título paulista pela décima vez (incluindo os títulos do Carnaval não oficial). Mesmo sem suas alegorias, cujo transporte se mostrou impraticável, a escola fez um desfile bonito, de samba levado no pé, sem os artifícios plásticos que a haviam feito campeã paulistana. Ao lado de Inocêncio Tobias, o Mulata da Camisa Verde e Branco, de Carlos Alberto Caetano, o Carlão do Peruche, de Pé Rachado, da Vai-Vai, de Eunice, da Lavapés, de Sinval, do Império do Cambuci, de Mala, da Acadêmicos do Tatuapé, Eduardo Basílio, da Rosas de Ouro, Rômulo, do Fio de Ouro, Juarez da Cruz, da Mocidade Alegre, Alberto Alves da Silva, o Nenê, foi um dos inventores do Carnaval de São Paulo, um dos baluartes do samba da terra da garoa.

A bateria Nota Dez da Nenê de Vila Matilde

O velório de Nenê foi na quadra da Escola, na Rua Júlio Rinaldi, 1 – Penha (Metro Vila Matilde). E o enterro aconteceu na terça-feira, dia 5, às 10 horas, no Cemitério Quarta Parada, no Tatuapé. No dia 17 de novembro de 2010, Alberto Alves da Silva, o Nenê de Vila Matilde, foi lembrado em cerimônia na Câmara Municipal de São Paulo.


VEJA.COM 04/10/2010


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