Fala, Moa!
Violonista exuberante, que estudou com Hélio Delmiro, compositor profícuo,
carioca da gema nascido em Jacarepaguá,Rio de Janeiro, no dia 5 de abril de 1958, Moacyr Luz, é autor de
Saudades da Guanabara, uma linda homenagem a sua cidade, feita em
parceria com Aldir Blanc e Paulo Cesar Pinheiro. Tem quase duas centenas de
músicas gravadas (só em parceria com Aldir Blanc seriam 90) por artistas do
primeiro time, como Maria Bethânia, Lana Bittencourt, Gilberto Gil, Nana Caymmi
e Leny Andrade. Cantor originalíssimo, estreou em disco com o CD Moacyr
Luz (1988).
Moacyr canta Saudades da Guanabara
ao lado de Nilze Carvalho,
Anna Luisa e
Ana Costa:
Seguiram-se Vitória da Ilusão (1995),
Mandingueiro (1998), Na Galeria (2001), Samba da
Cidade (2003), A Sedução Carioca do Poeta Brasileiro (2005),
inspirado em versos de grandes poetas brasileiros, Voz & Violão
(2005), Armando Marçal
e Moacyr Luz (2006) e finalmente Batucando (2009), sempre com boa
receptividade da crítica. O disco Eternos Guardiões mostra uma outra
faceta de Moacyr, a do produtor, já revelada anteriormente nos CDs de Casquinha,
compositor da Velha Guarda da Portela, de Guilherme de Brito, o eterno parceiro
de Nelson Cavaquinho e no disco Samba do Trabalhador – Renascença
Samba Clube, reunindo artistas que frequentavam às segundas-feiras o Samba
do Trabalhador, no Clube Renascença, tradicional reduto dos negros cariocas no
Andaraí. Moacyr, boêmio contumaz, virou um especialista em botequim, tendo
escrito o Manual de Sobrevivência nos Butiquins Mais Vagabundos (Senac
Rio, 125 páginas).
Ilustrado pelo cartunista Jaguar, o livro, contém entrevistas com boêmios
renomados e crônicas de casos testemunhados por Moacyr em décadas de aventura
etílica. É dele também o Botequim de Bêbado Tem Dono, com ilustraçoes
de Chico Caruso. Dia 7 de agosto, ele lança no Pirajá, em São Paulo, um livro
sobre a história do bar. Moacyr falou ao Passarela:
Moacyr, você produziu discos do Guilherme de Brito e do Casquinha,
além do CD do pagode do Renascença. Tomou gosto pela produção?Gosto
de trabalhar. A fama de boêmio não se justifica (risos). Ainda escrevo livros,
vez por outra. Na verdade, os trabalhos que você citou funcionam muito como
registro, modestamente, a história de algum momento.
Como pintou a idéia de fazer esse disco com cinco sambistas da velha
guarda do samba carioca?Duas frentes: trabalhei como curador do
Centro de Referência da Música Carioca. Ali, eu pensava o tempo todo em unir
elos do samba – a geração que chega com inúmeros esquecidos pelo caminho. No
Renascença, fui estreitando mais as relações com esses compositores de escola de
samba, raramente solicitados fora da disputa do samba-de-enredo, desde que
chegaram ao fim os chamados sambas de meio de ano.
O que não falta no Rio é bom compositor da antiga dando sopa nas
escolas, bares e terreiros. Por que esses cinco especificamente?Dos
cinco gravados, quatro são amigos do cotidiano, de visita mútua. A vontade é
fazer desse trabalho o volume 1. O formato foi decidido pela disponibilidade do
projeto. As raízes dessa árvore são profundas…
Nós temos aí o Zé Catimba, cobra-criada com uma obra invejável, e
Walter Peçanha, muito pouco conhecido, fora do círculo mais íntimo do samba. O
que une os dois?O zé é meu amigo. Existe uma gratidão na
participação dele nesse disco. O walter é uma necessidade. Soa pretencioso, mas
seria injusto com a vida desse artista popular o anonimato como pena de morte…
ele se renovou.
A idéia é documentar, gravar um registro de um tipo de samba que se
faz na cidade ou você e a gravadora tinham objetivos comerciais mais
ambiciosos?Nem esperava que uma gravadora importante como a
Biscoito Fino abraçasse a idéia. Repito, o projeto nasceu ainda no Centro de
Referência. Não houve interesse da nova Secretaria de Cultura carioca em dar
vida a esse registro. Nossa gestão pensava em abrir um selo dentro da unidade,
até porque, com exceção dos grandes nomes da música brasileira, a venda de disco
hoje é a mínima.
Seu último disco foi Batucando, no ano passado. Quando você
vai entrar em estúdio novamente?
Achei que fosse fazer meu primeiro
DVD. Chegamos a sentar na gravadora e rabiscar um formato. Tenho feito músicas
com parceiros mais jovens como Roberto Didio, de São Paulo, e o carioca Rogério
Batalha. Em tempo: convidado pelo Batucadas Brasileiras, fiz com o lendário
letrista Luiz Galvão, dos Novos Baianos, oito músicas para um projeto autoral
dessa escola de percussão. Novas músicas minhas também estão entrando no
repertório dos meus intérpretes preferidos (risos).
VEJA.COM 27/09/2010
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