segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

MARINA DE LA RIVA

Do caribenho clássico à MPB




Por Julio Cesar Cardoso de Barros

A cantora Marina de la Riva alça vôo. A música sempre esteve presente em sua vida, mas ela começou tarde na carreira profissional. De 2007 – ano de lançamento de seu primeiro CD – para cá, no entando, ela não parou. Não se trata de uma musa baiana do axé, com milhões de fãs espalhados pelo país. Seu repertório não faz pular. Mas ela está na moda. Tanto que na noite do dia 12 de novembro de 2010, sexta-feira, ela subiu no palco com Lulu Santos, no HSBC Brasil, e com Max de Castro e Simoninha em outro show, no Citibank Hall, em São Paulo.  Ela já cantou com Andrea Kisser, do Sepultura, e gravou com Chico Buarque. Eclética nas companhias de palco e estúdio, eclética no repertório, que só não inclui o que está nas paradas. Não está em busca do sucesso fácil, está fazendo passar seus bois por uma porteira estreita, mas segura. Certamente ela não é mais uma. No dia 4 de setembro de 2010 aconteceu o show de lançamento do primeiro DVD da cantora Marina de la Riva, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo. No repertório do show constaram clássicos como Aos Pés da Santa Cruz (de Marino Pinto e Zé da Zilda), Bloco do Prazer (de Moraes Moreira e Fausto Nilo) e Pedacito de Cielo, do pianista cubano Frank Dominguez. Um lançamento digno de uma grande estrela e um repertório que não faz a mínima concessão às tendências do mercado. Militância? Não, é o que Marina sabe, gosta e aprendeu a cantar.
Marina é filha e neta de cubanos, que deixaram a ilha dos Castro depois da Revolução de 1959. Após um tempo em Miami, nos Estados Unidos, a família se estabeleceu em Campos dos Goytacazes, no norte do Estado do Rio. Engenheiros especialistas em instalações industriais para produção de açúcar e álcool, eles compraram a Usina de Baixa Grande, onde Marina cresceu e viveu, até os 21 anos, ouvindo os boleros que o pai, Fernando de La Riva, cantava, além de outros sons caribenhos e brasileiros, que rolavam na vitrola. “Na minha casa, a música era uma placenta que nos transferia alimento intelectual e emocional. Ouvíamos canções cubanas como forma de estancar uma dor”, diz.

Mas se essa origem deu a ela uma influência musical muito positiva, trouxe de quebra um peso. Não há entrevista em que não se coloque na mesa a questão política de Cuba, terra do pai e dos avós. “Sabe por que é muito difícil falar desse assunto? Porque a gente não está lá, não esteve lá na época, não estava na pele nem de quem ficou nem de quem saiu, e eu vou ser julgada por um aspecto político, se sou comunista ou não. Isso não importa, estou falando de música”, desabafou ela em entrevista ao jornalista Pedro Alexandre Sanches, em 2007. Marina de La Riva não é comunista nem contra-revolucionária, é uma cantora brasileira com influências musicais cubanas do pai e do avô. Não é muito, não é pouco e não é tudo. Formada em Direito, ela sempre pensou em música, atividade que abraçou para valer quando mudou-se para São Paulo, onde lançou um primeiro disco, que leva seu nome no título, revelando fortes influências, que vão de Nina Simone a Cartola, do jazz de Chet Baker ao samba e aos ritmos cubanos e regionais brasileiros. Pelo trabalho recebeu um prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte.

    O DVD: da MPB aos ritmos caribenhos

A vida de Marina, que chegou a criar búfalos na planície goitacá, é marcada de todos os lados pela música. Integrou banda de jazz eletrônico, estudou canto lírico e cantou na noite no próprio bar, em Campos. A vida de ruralista não conseguiu afastá-la do som. Aos 10 anos assistiu a um show de Frank Sinatra, no Maksoud Plaza, em São Paulo. Contam que subiu ao palco e entregou uma flor ao astro americano. Ela confirma. Em 2008, teve uma participação e fez dueto com Frank Sinatra Jr., filho do homem, em Garota de Ipanema e Dindi, num show em Manaus. Na semana seguinte, abriu seu show no Vivo Rio. Já era da família. Em Búzios, aos 20 anos, foi convidada com o pai para cantar com o vizinho ao lado, ninguém menos que Tom Jobim, que se encantara com a cantoria que lhe chegava por cima do muro. “Sempre fui apaixonada por música”, diz. Mas foi com o incentivo de seu marido na época, o empresário João Pedro Flecha de Lima (filho do embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima, com quem tem o filho guitarrista, Paulo Tarso Neto, que já deu canja em seu show), com quem foi casada por seis anos, que Marina resolveu abraçar a carreira profissionalmente. Em 1999, quando trabalhava na Chanel, recebeu convite e aceitou se apresentar profissionalmente na Flag, casa noturna badalada de São Paulo. No ano seguinte, cantou em francês no lançamento do perfume Fragile, de Jean-Paul Gaultier.


Suas tentativas de gravar, no entanto, esbarravam na negativa das grandes gravadoras, que não viam no estilo cool e no repertório retrô da cantora o potencial de explosão dos artistas de massa. Esse obstáculo a levou a postar seus vídeos na internet. Virou musa de um grupo de internautas interessados em material de fora do mercadão da música. “Aquela Marina de La Riva, transformando Lulu Santos em salsa e bolero, é sensacional. Vai ser sucesso logo, logo. Dá uma olhada no YouTube…”, disse na revista Bravo! o descobridor de talentos Nelson Motta. Se a voz encantava, a figura causava frisson: um belo rosto emoldurado por longos cabelos negros e olhos amendoados. Um jeito tímido de olhar se contrapondo à sensualidade à flor da pele. “Mas bonita mesmo é a minha voz”, dizia. A partir daí, Marina não parou mais, e construiu sua carreira com discrição, ganhando maturidade, definindo o estilo com elegância.

    Com Lulu Santos, no HSBC Brasil

Em 2007, o primeiro disco – gravado pelo selo próprio, Mousike -  e shows no Museu da Imagem e do Som, no SESC e no Bourbon Street. No CD Marina de La Riva, ela reuniu ritmos da terra dos ancestrais, como a romântica Te Amaré y Después (Silvio Rodríguez), e Drume Negrita (Bola de Nieve), com temperos nacionais, como Sonho Meu (Ivone Lara) e Ta-Hí! (Taí ou Pra Você Gostar de Mim, um dos maiores sucessos de Carmen Miranda, gravado pela Pequena Notável em janeiro de 1930). O disco teve produção independente, mas a Universal entrou no projeto para distribuir o álbum, que contou com a participação de Chico Buarque na faixa Ojos Malignos. Um luxo para uma iniciante. “Pego um clássico cubano, por exemplo, e coloco a maresia da bossa nova”, diz.

    O primeiro disco: independente

Aos poucos, Marina de La Riva vai sendo apresentada ao grande público. Não é o primeiro caso de artista cool que se torna popular. Mas seu estilo vai contra a maré da cepa “universitário” do sertanejo, do forró e do pagode e não encontra identidade no som das cantoras dos trios baianos, que se tornou onipresente de norte a sul do país. Sua voz delicada nem se prestaria a isso. Em setembro de 2008 ela inaugurou a área de música da VEJA.com, concedendo longa entrevista ao repórter Sérgio Martins e apresentando cinco canções, duas inéditas. No início de 2009, participou ao lado do erudito Nelson Ayres da série de espetáculos A Mulher e o Piano – Uma História de Amor. Em agosto de 2010, foi convidada a subir ao palco no show do pop Lulu Santos, no Rio, cena que se repetiria no show de novembro, em São Paulo. O show de lançamento de seu DVD em setembro de 2010 no Auditório Ibirapuera mostrou que Marina está conseguindo ampliar seu público sem conceder na qualidade de seu repertório. Conheça mais um pouco dessa cantora original em VEJA Música e na sua página na internet.

No Bourbon Street, cantando Drume Negrita:

VEJA.COM 16/11/2010 

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