segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

MARIO ALBANESE

O criador do jequibau



Por Julio Cesar Cardoso de Barros


    Cyro Pereira e Mário Albanese: 5 compassos

No mês de agosto de 1965, os músicos paulistas Mário Albanese e Cyro Pereira lançaram um disco com as músicas Jequibau e Esperando o Sol. O LP surpreendeu o meio artístico pelo inusitado de apresentar um ritmo até então inédito na música brasileira: o 5/4 (compasso de cinco tempos), que batizaram de jequibau.
Advogado formado pela Faculdade de Direito de São Paulo, Albanese já era radialista e, assim como Cyro, músico conhecido, tendo já conquistado dois discos de ouro com as músicas Você, na voz de Marina Barbosa, e Insônia, que ele próprio gravou ao piano. Hoje, Cyro Pereira é diretor da Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo e Mário Albanese é assessor da presidência da Cetesb – Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental -, cedido temporariamente para a Prodesp, empresa de processamento de dados do Estado, onde desenvolve uma campanha institucional de combate ao fumo.

    Jequibau, o disco

Quando o disco começou a ser executado, o público não sabia se estava ouvindo um samba tocado por músicos de jazz ou se era o contrário. “As pessoas não estavam acostumadas”, lembra Albanese. Era algo diferente, mas sem dúvida inserido no rol dos ritmos brasileiros, um aparentado do samba, que tem como característica um compasso de quatro tempos.

Novas Propostas – Convidado para gravar um LP inteiro só com jequibau, nos Estdos Unidos, Albanese entrou em pânico. “Nós não estávamos preparados para o mercado. Aquilo era apenas o resultado de nossas pesquisas”, diz. Ligou para Cyro e começaram a compor as faixas do disco Jequibau, lançado primeiro nos Estados Unidos, depois no Brasil, França, Itália, Argentina e México. Albanese, que já tinha músicas suas gravadas por grandes nomes da música brasiileira, como Agostinho dos Santos, Pedrinho Mattar, Isaura Garcia e Cauby Peixoto, passou a ter seus jequibaus impressos na interpretação de astros internacionais da expressão de Andy Williams, Sadao Watanabe e Herb Alpert.
Hoje, com décadas de músicas nesse ritmo editadas e dezenas inéditas, ele continua sendo gravado e, vez por outra, recebe novas propostas de grupos de dança moderna interessados em coreografar suas composições. Apesar de ter ganhado algum dinheiro, Albanese e seu parceiro não tiraram o devido proveito da situação e deixaram escapar a chance de transformar o jequibau numa boa fonte de dólares. “Se eu tivesse ido para os Estados Unidos, na época, e se soubesse explorar o mercado como faz esse pessoal hoje com a lambada, a história seria outra”, avalia. Vinde e cinco anos depois, Albanese só fica contrariado quando pensa nos direitos de autor, que não são devidamente respeitados no Brasil. Por conta disso, todo ano, no Dia Nacional do Direito Autoral, remete às emissoras de rádio e às redações de jornais e revistas um manifesto em que expressa a sua revolta. “Pode não dar resultado, mas não posso deixar passar em branco. Alguma coisa tem de ser feita”.

*VEJA/5/9/1990.

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