Cyro Pereira e Mário Albanese: 5
compassos
No mês de agosto de 1965, os músicos paulistas Mário Albanese e Cyro Pereira
lançaram um disco com as músicas Jequibau e Esperando o Sol. O
LP surpreendeu o meio artístico pelo inusitado de apresentar um ritmo até então
inédito na música brasileira: o 5/4 (compasso de cinco tempos), que batizaram de
jequibau.
Advogado formado pela Faculdade de Direito de São Paulo, Albanese já
era radialista e, assim como Cyro, músico conhecido, tendo já conquistado dois
discos de ouro com as músicas Você, na voz de Marina Barbosa, e
Insônia, que ele próprio gravou ao piano. Hoje, Cyro Pereira é diretor
da Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo e Mário Albanese é assessor
da presidência da Cetesb – Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental -,
cedido temporariamente para a Prodesp, empresa de processamento de dados do
Estado, onde desenvolve uma campanha institucional de combate ao fumo.
Jequibau, o disco
Quando o disco começou a ser executado, o público não sabia se estava ouvindo
um samba tocado por músicos de jazz ou se era o contrário. “As pessoas não
estavam acostumadas”, lembra Albanese. Era algo diferente, mas sem dúvida
inserido no rol dos ritmos brasileiros, um aparentado do samba, que tem como
característica um compasso de quatro tempos.
Novas Propostas – Convidado para gravar um LP inteiro só com
jequibau, nos Estdos Unidos, Albanese entrou em pânico. “Nós não estávamos
preparados para o mercado. Aquilo era apenas o resultado de nossas pesquisas”,
diz. Ligou para Cyro e começaram a compor as faixas do disco Jequibau,
lançado primeiro nos Estados Unidos, depois no Brasil, França, Itália, Argentina
e México. Albanese, que já tinha músicas suas gravadas por grandes nomes da
música brasiileira, como Agostinho dos Santos, Pedrinho Mattar, Isaura Garcia e
Cauby Peixoto, passou a ter seus jequibaus impressos na interpretação de astros
internacionais da expressão de Andy Williams, Sadao Watanabe e Herb Alpert.
Hoje, com décadas de músicas nesse ritmo editadas e dezenas
inéditas, ele continua sendo gravado e, vez por outra, recebe novas propostas de
grupos de dança moderna interessados em coreografar suas composições. Apesar de
ter ganhado algum dinheiro, Albanese e seu parceiro não tiraram o devido
proveito da situação e deixaram escapar a chance de transformar o jequibau numa
boa fonte de dólares. “Se eu tivesse ido para os Estados Unidos, na época, e se
soubesse explorar o mercado como faz esse pessoal hoje com a lambada, a história
seria outra”, avalia. Vinde e cinco anos depois, Albanese só fica contrariado
quando pensa nos direitos de autor, que não são devidamente respeitados no
Brasil. Por conta disso, todo ano, no Dia Nacional do Direito Autoral, remete às
emissoras de rádio e às redações de jornais e revistas um manifesto em que
expressa a sua revolta. “Pode não dar resultado, mas não posso deixar passar em
branco. Alguma coisa tem de ser feita”.
*VEJA/5/9/1990.
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