Por Julio Cesar Cardoso de Barros
Em 1993, aos 30 anos de idade, Ubirajara Silva de Souza, o Bira da Vila, teve
sua primeira composição gravada. Sorriso de Banjo, uma parceria com
Fidélis Marques e Melodia Costa, abriu o disco Vou na Fé, de Jovelina
Pérola Negra. Em 2002, em parceria com Riko Dorilêo, compôs Ventos da
liberdade, uma música falando do fim da guerra civil de Angola, que se
tornou muito popular naquele país. Agora, Bira acaba de lançar seu primeiro CD,
Canto da Baixada, uma homenagem aos músicos e compositores da Baixada
Fluminense. O disco é fruto de oito anos de pesquisa e garimpagem de músicas
feitas por compositores da Baixada Fluminense, que resultaram em um acervo com
mais de mil músicas. Nessa empreitada Bira contou com a colaboração de Sérgio
Fonseca, letrista (parceiro de compositores como Dedé da Portela, Jorge Aragão,
Délcio Carvalho, César Costa Filho, Noca da Portela), professor de português e
literatura, e ex-secretário da Cultura de Mesquita, além dos sambistas Wilson
Bombeiro, da ala de compositores da Beija-Flor de Nilópolis, João da Paz e
Chiquinho Maciel.
Para o disco, Bira selecionou 15
sambas de compositores do lugar, escolhidos nesse acervo que reúne músicas dos
anos 40 até hoje. Entre os compositores da velha guarda reunidos no disco estão
os portelenses Cabana, Anésio e Catoni, além de Manoel Santana (“Se É
Pecado Sambar/ A Deus eu peço perdão”) e do mangueirense Hélio
Cabral, autor de Benfeitores do Universo, samba-enredo de 1953 dos
Cartolinhas de Caxias - escola já extinta pela qual o pai de Bira
desfilava (Esse samba de Cabral tornou-se um clássico do gênero e foi gravado
por Jamelão, no LP Escolas de Samba, em 1958, e por Martinho da Vila,
no álbum Samba Enredo, em 1980). O disco de Bira foi produzido sob
orientação do experiente radialista Adelzon Alves, um especialista no assunto, e
conta com a participação especial de Beth Carvalho na faixa O Daqui, o Dali
e o De Lá, uma parceria com Serginho Meriti, gravada originalmente pelos
bons músicos do grupo Toque de Prima (2005) e regravada no mesmo ano por Bira,
numa das faixas do CD Renascença Clube – O Samba do
Trabalhador (http://www.luamusic.com.br/renascenca.htm),
e em 2006 por Cláudio Jorge e Luiz Carlos da Vila, no álbum Matrizes. O
sambista Reinaldo o incluiu em seu DVD, em 2009 . O disco conta também com a
participação de Luiz Carlos da Vila na faixa Paz na Terra. Luiz
Carlos, padrinho musical que apresentou Bira nas rodas de samba do Rio, é seu
parceiro nos sambas Vem pra Roda Sambar e Então Leva, esta
última gravada por Zeca Pagodinho, em 2008, e indicada ao Prêmio de Música
Brasileira na categoria Melhor Canção.
Zeca Pagodinho canta Então Leva:
Filho do passista e versador Neblina, da Cartolinhas (para quem compôs seu
primeiro samba, O Malandrinho, aos 14 anos) e desde 1986 membro da ala
de compositores da Acadêmicos da Grande Rio, Bira já é considerado um bamba nas
rodas de samba cariocas. O compositor, cuja carreira começou nos pagodes da Vila
São Luís, primeiro distrito de Duque de Caxias, à beira da BR 040, no caminho de
Minas pela serra de Petrópolis, parte agora para um novo patamar. Bira da Vila
vai ter de mostrar que tem garrafa pra vender como cantor profissional. O
material pesquisado é de primeira. Já é um bom começo.
O hino à reconciliação de Angola:
VEJA.COM 18/07/2010
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