O rei do batuque
Zeca Pagodinho mostra a força do partido-alto
Por Julio Cesar Cardoso de Barros
Num hipotético Samba in Rio Festival, a parte da programação dedicada à ala jovem certamente teria uma noite reservada a Zeca Pagodinho. Mas apesar do jeito moleque aos 37 anos, o compositor tem a embocadura dos velhos partideiros. Grava seus sambas há pelo menos quinze anos e com o CD Deixa Clarear completa dez de carreira como cantor. Seu último CD, Samba pras Moças, vendeu 240 000 unidades, e o novo disco já sai com uma tiragem de 85 000.
O forte do CD que acaba de chegar às lojas é o partido-alto, um tipo de samba caracterizado pelo refrão forte e de fácil assimilação, moldado para o canto coletivo, intercalado com versos de improviso. Zeca mostra, em faixas de sua autoria e em composições de outros autores, três momentos do gênero. De Tio Hélio e Nilton Campolino, sambistas da antiga, ele gravou o refrão contagiante Colete curto/Paletó do mesmo pano/Nego véio andando/Nego véio andando. Em Nega do Patrão, Zeca abre espaço para Otacílio e Ary do Cavaco, a dupla irreverente do partido-alto dos anos 70. Jiló com Pimenta, uma parceria com Arlindo Cruz, gravada em 1983 por Beth Carvalho, reaparece aqui como a marca do partido da geração do cantor.
Outros pontos altos do CD são a melodia de Alcides Lopes, o malandro histórico da Portela, na faixa Vivo Isolado do Mundo, e o belo samba Vou Procurar Esquecer, de Ratinho e Monarco, que ganha um tom nostálgico com a introdução e floreados de clarinete e um arranjo de flautas. Em ambas as faixas há a participação da Velha-Guarda da Portela no coro. Essas homenagens aos velhos compositores do samba carioca estão presentes em todos os discos de Zeca. Em Deixa Clarear ele exagerou, para felicidade geral.
VEJA, 13/11/1996.
VEJA, 13/11/1996.
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