Ele não viu seu último CD
Por Julio Cesar Cardoso de Barros
Zé Rodrix morreu no dia 22 de maio de 2009, no Hospital das Clínicas, em São
Paulo, onde fora internado depois de passar mal. Tinha só 62 anos e não
viveu para ver o quarto álbum do grupo formado por ele, Sá e Guarabyra, que estava em produção e foi lançado em
março de 2010. Cantor, compositor e publicitário, José Rodrigues Trindade, o
Zé Rodrix, integrou a banda Momento 4, que ganhou o festival da TV Record, em
1967, cantando Ponteio, de Edu Lôbo. É autor de Casa no Campo
(com Tavito), música com a qual venceu o festival de Juiz de Fora,
classificando-a automaticamente para o Festival Internacional da Canção, da TV
Globo, se tornando um grande sucesso na voz de Elis Regina.
"Fomos a Juiz de Fora porque não tínhamos o que comer em casa". Meu pai me deu cinco contos, eu comprei um sanduíche e um Tio
Patinhas, e levei uma música que tinha composto com Tavito em Goiânia”,
contou Rodrix ao Jornal do Brasil, anos depois, com seu humor
característico. Às vésperas de se tornar pai pela primeira vez, o jovem e já
exigente compositor, na flor de seus 23 anos, declarou que seria uma felicidade
se seu filho nascesse em pleno ginásio do Maracanãzinho, “mas quando estiverem
apresentando uma boa música; o maior crime seria colocar uma criança no mundo
para ouvir besteira”. Rodrix, que estudou no Colégio de Aplicação, no Rio, e trocou a
faculdade de Direito no último ano pela música, explicou assim a opção pela
simplicidade de Casa no Campo: “Já quis fazer coisas sofisticadas.
Hoje, curto feijão com arroz, salada de alface, televisão, praia, campo”.
Ouça Casa no Campo, de Rodrix
e Tavito:
Encontro com Sá e Guarabyra
Ao sair da Momento 4, Rodrix integrou, em 1970, a banda de rock progressivo
Som Imaginário, ao lado de Tavido, Wagner Tiso, Fredera, Luiz Alves e Robertinho
Silva. Durou pouco a experiência. Um ano depois formou com o carioca Luís Carlos
Pereira de Sá e o baiano Gutemberg Nery Guarabyra Filho (integrante do Grupo
Manifesto e vencedor do II Festival Internacional da Canção com
Margarida, em 1967), um trio que enfeitou a trilha sonora da vida de
muita gente.
Roupa Nova canta Margarida, de
Guarabyra:
Carimbados como criadores do rock rural, os três fizeram escola e
estabeleceram quase que um novo gênero musical, entre o regional e o universal,
entre o telúrico e o espiritual. Um ano depois da criação do grupo, saiu o
primeiro disco, Passado, Presente, Futuro, que abria com
Zepelin:
Eu queria passear de zepelin
Na cadeira ao lado do Conde
Ferdinando
Num balão de gás inflamável
Pelos ares da
Europa viajando
Em 1973, o trio lançou o LP Terra, no qual se destacou o hit
Mestre Jonas. Depois desse segundo disco, Rodrix deixou o
grupo. Enquanto ele fazia sucesso na publicidade com jingles brilhantes,
compunha trilhas para o cinema e fazia experiências ousadas com a banda Joelho
de Porco (com Tico Terpins e Próspero Albanese), Sá e Guarabyra seguiam carreira
em dupla, até que em 2001, depois de quase três décadas separados, eles
retornaram para uma participação no Rock in Rio 3 e gravaram novo disco,
Outra Vez na Estrada, que resultou numa turnê e num DVD. "A gente
sempre manteve o contato e volta e meia pintava uma idéia ou outra para uma nova
música. Aí decidimos nos reunir de novo e gravar. Mais ou menos na mesma época
pintou o convite para o Rock in Rio 3", contava Rodrix.
Ouça Mestre Jonas, com Sá, Rodrix e
Guarabyra:
Um disco de canções inéditas
O último disco do trio, Amanhã, saiu em março de 2010 pela Roupa Nova
Music, com doze faixas inéditas, entre elas Sonho Triste em Copacabana
(Rodrix e Sá), Dia do Rio (Sá, Rodrix e Guarabyra), Marina, Eu Só
Quero Viver (Guarabyra) e Logo Eu, Saudade (Sá, Rodrix e
Guarabyra). A produção artística foi de Tavito (Rua Ramalhete),
que participou ainda dos arranjos vocais. Piano e voz (Rodrix) e um coro afinado
em Copacabana mostraram que havia um estranho no ninho da MPB atual. Com
temperos de rock e blues, a faixa não se encaixava no novidadeiro filão
“universitário”, cujo rótulo pespegava o sertanejo, o forró e o pagode. Era o velho
som ainda na estrada. É música sem subterfúgios, tocada com prazer e talento. Em
Marina, Guarabyra soltava a voz apoiado por um coral “a la Golden Boys”,
sem medo de ser romântico, com arranjo farto em cordas, teclados e metais. Na
humorosa Novo Rio, de Sá, o aquecimento global levava os peixes a um
passeio no 30° andar de um shopping, e não havia mais o Arpoador. O acordeon de Tiago
Costa enfeitava a calma Amar Direito, na qual Sá deixava claro que
o romantismo não precisava ser derramado, podia ser leve e sereno:
No meio da noite me pegue e me mostre um destino
Me faça um
sentido, me faça sonhar
Guarabyra canta Marina, Eu Só Quero
Viver:
A morte de Zé Rodrix pode ter dado uma meia trava no planejamento de shows e
turnês, mas seria impossível imaginar Sá e Guarabyra deixando a peteca cair. A
agenda da dupla seguiu cheia, com um novo CD e a restruturação da turnê. Amanhã é um disco para quem gosta de ouvir música,
para quem acredita que a canção não morreu. Mas balançou as roseiras por onde a
caravana passou, como já fizeram no passado Dona, Espanhola e
Sobradinho. São décadas de estrada, mas o caminho é largo e ainda
longo. Um último trabalho à altura do talento de Rodrix e seus companheiros de caminhada.
O trio canta Sobradinho, de Sá e
Guarabyra:
VEJA.COM 27/06/2010
A passagem do Zé Rodrix pelo Joelho de Porco foi hilariante, com a banda ele gravou dois discos, "Saqueando a Cidade" e "18 anos sem sucesso", ele e o Tico Terpins do Joelho montaram uma agência de publicidade e um estúdio onde muita gente gravou nos anos 80, o Zé foi o grande camaleão da música brasileira, acho que ninguém passou por tantos estilos musicais diferentes como ele.
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