O samba ironiza os maconheiros
Por Julio Cesar Cardoso de Barros
Ao contrário da moçada do reggae, os sambistas nunca defenderam o uso da maconha. Malandros, sempre colocaram o parango na boca de terceiros. Não é de hoje que o cânhamo povoa a cabeça dos compositores. Utilizado primitivamente como analgésico, para aplacar a dor de dente, pode ser a ele que Noel Rosa se referia em Minha Viola, de 1930, quando falava dos danados que Vêm bancando inteligente/Diz que tão com dô de dente/Que o cigarro faz passá. Nada comprovado. No final dos anos 50, Roberto Silva não deixou dúvida. Gravou O Jornal da Morte, de Miguel Gustavo, primeiro samba em que a erva é chamada pelo nome: Tresloucada, seminua/Jogou-se do 8º andar/Porque o noivo não comprava/Maconha pra ela fumar. Em 1980, o Exporta Samba cantava de Everardo da Viola: Tá um cheiro de mato queimado/Tá cheirando/Pode ser que eu esteja enganado/Tem alguém mato queimando.
Nos anos 80, a fumaça quase vira pó, mas Bezerra da Silva segue falando da liamba em sambas como o sucesso regravado pelo Barão e o hilário A Semente, em que o flagrado diz pro delegado:Não sou agricultor/Desconheço a semente. Em 1992, Grampeado com Muita Moral dizia Eu fui grampeado com muita moral/Porém o baseado que estava comigo/Pra não ter sujeira eu meti o pau, e Nariz de Bronze gozava o otário que fica doidão só de pensar que fumou: Vocês vejam como é que é/Colocaram capim no bagulho do cara/E botaram talco no pó do mané. Como se vê, o samba fica cada vez menos sutil — mas não chega perto da “bandeira” do pop fumacê.
VEJA, 03/07/1996.
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