Mostrando postagens com marcador ARLINDO CRUZ. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador ARLINDO CRUZ. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

LUIZ CARLOS DA VILA

Um compositor que honra a Vila Isabel



Raças Brasil: samba do bom

Por Julio Cesar Cardoso de Barros

Contrariando a tese de que o samba morreu, a gravadora Velas lança o CD Raças Brasil, de Luiz Carlos da Vila, prova irrefutável de que o gênero não só sobrevive como se renova na voz inspirada de um grande compositor. Da mesma geração e parceiro de nomes como Jorge Aragão, Arlindo Cruz e Sombrinha, Luiz Carlos da Vila é daqueles autores que conquistaram a admiração dos bons intérpretes. Aos 46 anos, já teve várias músicas gravadas por Simone, Martinho da Vila, Grupo Fundo de Quintal, João Nogueira e Beth Carvalho, que o lançou, em 1980, com O Sonho Não Acabou, uma homenagem ao portelense Candeia, regravada neste CD. “Foi a partir daí que eu explodi?”, diz Luiz Carlos, ironizando o pouco sucesso dos bons sambistas num mercado viciado.
Em Raças Brasil, o destaque inevitável é Além da Razão, parceria com Sombra e Sombrinha, que canta: Por te amar eu pintei/Um azul do céu se admirar/…De um vulgar fiz um rei/ E do nada um império pra te dar. A música foi gravada por Jorge Aragão, Beth Carvalho e pelo Grupo Fundo de Quintal. É na combinação de uma poesia singela sobre uma base melódica sofisticada que o autor firma seu estilo. Faz um samba à altura das tradicionais calçadas de Vila Isabel, sem envergonhar Noel Rosa. Sendo da Vila, não podia ficar de fora do samba da escola. A faixaKizomba prova sua competência nessa área à exaustão. Num terreiro onde os cobras do enredo sempre foram Martinho da Vila e Paulo Brazão, ele levou a escola Unidos de Vila Isabel ao título de 1988 nessa parceria com Jonas e Rodolfo. Raças Brasil é um disco de autor. Dificilmente fará sucesso. Para isso, Luiz Carlos teria de contar com as gordas verbas com as quais se patrocinam os pacotes promocionais que alimentam as emissoras de rádio. Enquanto isso não acontece, ele tem de contar apenas com seu talento. Na caminhada dura do samba, resta ao compositor o consolo de ter pisado o asfalto do reconhecimento, enquanto legiões de talentos anônimos se perderam na poeira da estrada.

VEJA/15/11/1995.

ARLINDO CRUZ E SOMBRINHA

Dupla nota dez

Sombrinha e Arlindo são

os clássicos do samba atual


Por Julio Cesar Cardoso de Barros

Uma crítica que se faz ao samba atual é que ele não gerou nenhum nome digno de habitar o panteão do gênero. Não temos mais um Wilson Batista, um Geraldo Pereira ou um Noel Rosa. O mesmo se dizia há trinta anos. E lá estavam Cartola e Nelson Cavaquinho, hoje imortalizados por uma obra exuberante. O samba é um estilo musical em que o talento leva muito tempo para ser reconhecido, mas atualmente há compositores dignos de figurar em qualquer antologia. Entre eles, Sombrinha e Arlindo Cruz, que acabam de lançar o CD Da Música. Sombrinha é um compositor que saiu de São Vicente, no litoral paulista, para encaminhar sua vocação nos terreiros cariocas, onde integrou a primeira formação do Grupo Fundo de Quintal. Lá, conheceu Arlindo, um carioca criado no samba de Madureira. Há seis anos, deixaram o grupo para gravar álbuns-solo, mas se juntaram para shows, sempre com casa cheia. A conseqüência foi esse Da Música, que é quase uma ode à Madureira de Arlindo, com a sua Império Serrano e a velha Portela, homenageadas em faixas assinadas por Candeia, Ivone Lara e no partido-alto Eu Não Sou o que Ela Pensou, do falecido Jorge Pessanha, um parceiro do legendário Silas de Oliveira, o maior compositor de samba-enredo.
Sombrinha e Arlindo são compositores que não se satisfazem com a seqüência fácil das melodias de três acordes que lançaram a música brasileira num poço de monotonia. Nos sambas mais lentos, eles passeiam por dissonâncias refinadas com as quais vestem letras singelas que tratam do dia-a-dia, de problemas sociais e do amor. O disco abre com uma seleção de partido-alto, bate continência para a Bahia no samba-de-roda Pelô Céu, Pelô Chão e volta correndo para o Morro da Serrinha com Pintou uma Lua Lá, de Beto Sem Braço, o autor do antológico Bumbum Paticumbum, Prugurundum. Da Música é uma boa mostra do que há de melhor no gênero e traz sambas fortes, como O Filho do Quitandeiro, que esquentarão os terreiros do centro-sul do país, provando que samba bom não viaja de jatinho, mas também não está restrito às prateleiras dos museus do disco.

VEJA, 05/06/1996.