Aldyr Blanc (Mendes) faria 74 anos em setembro. Era médico psiquiatra, mas abandonou a profissão pouco depois de se formar e, a partir de 1973, passou a se dedicar à música, tornando-se um dos maiores letristas da MPB. Sua parceria com João Bosco marcou época com canções como O Bêbado e o Equilibrista, grande sucesso na voz de Elis Regina, que se transformou numa espécie de hino contra a ditadura. A Pimentinha é responsável por outro grande sucesso de Aldyr, o samba O Mestre-Sala dos Mares. Foi parceiro de nomes como Cesar Costa Filho, Moacyr Luz, Ivan Lins, Guinga, Sueli Costa entre outros.
Sucesso indiscutível de crítica, não poucas vezes o foi também de público. São de sua lavra peças notáveis do cancioneiro nacional tornadas clássicos na voz dos maiores nomes da nossa música. Obras-primas como "Resposta Ao Tempo" (com Cristóvão Bastos) gravada por Nana Caymmi; "Querelas do Brasil" (com Maurício Tapajós l) na voz de Elis Regina), "Amigo É Para Essas Coisas", grande sucesso do grupo MPB-4.
São de sua pena ainda
“O Rancho da Goiabada", "Corsário", "Bala Com Bala", "Dois Pra Lá, Dois Pra Cá" e "O Ronco da Cuíca" e centenas de outras composições saídas de sus inesgotável fonte de inspiração.
Nascido no bairro carioca do Estácio, berço do samba, Aldyr era um gênio das letras, mas um sujeito simples e afável, dono de um humor cortante, mas que tinha o objetivo de divertir, mais do que ferir. “Sou rigorosamente ateu, cético, cínico e escroto, nessa ordem”, dizia. Contava que sofreu preconceito durante a infância, um branquelo num meio predominantemente negro. Mas acabou se impondo pelo talento e amor ao samba. Vascaíno roxo, era autor do livro "A Cruz do Bacalhau", que escreveu em parceria com o jornalista e historiador José Reinaldo Marques.
Morador da Tijuca, figura adorada pela vizinhança da rua Garibaldi, onde durante muito tempo marcou ponto no Bar da Maria, cujos dotes culinários ele exagerava além da conta, Aldyr vivia no meio do caminho entre o subúrbio e a praia. E tinha amigos em ambos os mundos. Conhecia como poucos tanto as malocagens das quebrada quanto os vícios da Zona Sul. Era um espírito livre, um amante das coisas simples da vida, dos bate-papos de mesa de botequim e esquinas de um Rio de Janeiro que sofre, mas não se acaba.
“Aldir diz que o tijucano está em eterno estado de sítio. Para a turma da Zona Norte, o tijucano é um semi-ipanemense. Já para o pessoal da Zona Sul, é um suburbano”, disse dele o pesquisador Marcelo Sampaio, quando do lançamenti, em 2004, do filme “Aldir Blanc, Dois Pra Lá, Dois Pra Cá”, dirigido por Alexandre Ribeiro de Carvalho, André Sampaio e José Ribeiro de Moraes.
Aldyr estava internado no Hospital Pedro Ernesto, em Vila Isabel na Zona Norte do Rio de Janeiro, região onde morava. Morreu por complicações da Cobid-19, no dia 4 de maio de 2020.
Nenhum comentário:
Postar um comentário