domingo, 3 de maio de 2020

O SOM DO BRASIL

Origem e evolução do samba


Por Julio Cesar Cardoso de Barros


O samba moderno, conhecido como o ritmo brasileiro por excelência, nasceu na Bahia e se criou no Rio de Janeiro. Ele vem das batucadas festivas dos terreiros, do samba-de-roda do Recôncavo Baiano e tem influências harmônicas do choro e do maxixe. Conheça as raízes dessa música e os subgêneros que gerou ao longo de sua evolução.

1870 – Choro
Música instrumental popular, tocada com piano, bandolim, violão, cavaquinho e flauta nos salões do subúrbio carioca na segunda metade do Século XIX. Era basicamente a forma de os músicos brasileiros executarem os gêneros musicais da moda na Europa, como a polca, a valsa e o schottisch (xote), além do lundu, ritmo e dança de origem africana. O gênero foi fixado, entre outros, pela compositora e pianista Chiquinha Gonzaga (1847-1935), cujos choros Atraente e Faceiro são tocados até hoje, e pelos flautistas Joaquim Callado (1848-1880) e Viriato Figueira (1851-1883).

Chiquinha Gonzaga

Talitha Peres  toca Faceiro, de Chiquinha Gonzaga, no Teatro Municipal de São João del-Rei (MG):

1870 – Maxixe
Contemporâneo do choro e como ele influenciado pela polca e outros ritmos de salão da última metade do Século XIX, o maxixe foi cultivado pelos chorões e teve em Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazaré dois de seus maiores criadores. O ritmo entrou nas primeiras décadas do Século XX pelas mãos dos músicos negros do Rio de Janeiro e é um dos precursores do samba carioca.

Ernesto Nazareth


Virginea Rosa canta Maxixe do Barradas, de Chiquinha Gonzaga, com Maria Teresa Madeira ao piano:

1876 – Samba-de-roda
Modalidade musical cultivada pelos negros do Recôncavo, o samba de roda é cantado até hoje em rodas de capoeira e em festas profanas de terreiros onde se cultuam os deuses do panteão africano. No final do Século XIX, foi trazido para o Rio, já no final da escravidão, pelas tias baianas, mães-de-santo em cujas casas se praticava o candomblé e onde se reuniam em festejos profanos seus filhos de santo, filhos de sangue e convidados. A mais famosa dessas tias foi Ciata (1854-1924), que chegou ao Rio em 1876.

Samba de roda da Bahia

Samba de roda na Bahia:

1899 – Marchinha Carnavalesca
Além do choro e do maxixe, Chiquinha Gonzaga tem seu nome intimamente ligado às marchinhas carnavalescas. É dela a primeira marchinha a fazer sucesso no reinado de Momo: Ô Abre Alas (1899). Composta para o bloco Rosa de Ouro, a música é tida como a primeira de um gênero inspirado nas marchas portuguesas, de ritmo mais marcial, que foram muito populares no Rio de Janeiro até o início do Século XX. Lamartine Babo e Braguinha foram dois dos maiores autores de marchinhas, que são tocadas até hoje no Carnaval.

Lamartine Babo

Ouça Ô Abre Alas com Marlene, Emilinha e Angela Maria e Leandro Braga (Piano):

1917 – Samba-maxixe
Convencionou-se que o primeiro samba gravado no Brasil foi Pelo Telefone, de Mauro de Almeida e Donga cantado por Baiano. É um marco, mas logicamente outras músicas do gênero já existiam. Eram resultado da influência do maxixe e do samba-de-roda que os baianos trouxeram para o Rio e cantavam nas festas das tias da zona portuária da Gamboa e da Saúde, num movimento que depois se espalhou pela Cidade Nova, com a modernização do centro e a derrubada das moradias precárias onde viviam os negros. Pelo Telefone era mais um maxixe que o samba como o conhecemos. O samba moderno é uma evolução surgida nos morros e nos bairros do Estácio e Vila Isabel, fruto da troca entre sambistas das favelas e do “asfalto”.

Sinhô


Zeca Pagodinho canta Jura, de Sinhô:

1927 – Samba Carioca
Compositores da cidade, que subiam o morro para batucadas memoráveis e compositores do morro que desciam para frequentar os cafés, que eram pontos de encontro de artistas, criaram um novo modo de cantar o samba. Baiaco, Brancura, Bide, Ismael Silva e muitos outros autores já almejavam, por essa época, a profissionalização. O primeiro samba de Ismael Silva  gravado por Francisco Alves em 1927 (Me Faz Carinho), é um marco do nascimento do samba carioca, que resiste até hoje. Um exemplar esplêndido dessa safra de sambas é Se Você Jurar.

Noel Rosa


Ouça Se Você Jurar, do filme Noel, o Poeta da Vila:

1928 – Samba-Canção
O primeiro samba-canção foi provavelmente Linda Flor (Ai, ioiô), gravado com gigantesco sucesso pela atriz Aracy Cortes. Um bom exemplo de samba-canção é Último Desejo, de Noel Rosa. É um estilo de samba meloso, romântico, com influências mistas, da modinha e do fado portuguêses  na harmonia, do bolero na temática e nas melodias. Custódio Mesquita, Dolores Duran, Antonio Maria, Tido Madi, Adelino Moreira, Tom Jobim e outros grandes nomes da MPB fizeram sambas-canção, um dos estilos mais populares de música brasileira, com espaço amplo no rádio das décadas de 20 a 60.

Custódio Mesquita

João e Bebel Gilberto cantam Linda Flor, no Palace, São Paulo, em 1994:

1930 – Partido Alto
Desde antes de Pelo Telefone - o primeiro samba a ser gravado, segundo a convenção - o pessoal que se reunia nas festas das tias baianas, na zona portuária do Rio, já cantava refrões seguidos de versos improvisados. Herança dos sambas-de-roda e outras formas de sambas baianos sustentados por um refrão intercalado por versos, com o povo marcando o ritmo na palma das mãos e fazendo côro, enquanto os ritmistas seguravam o andamento nos couros, batucando em caixotes ou raspando um prato com a faca. Chamado às vezes de partido alto baiano, chula raiada ou samba raiado, ele esteve presente no repertório dos sambistas por todo o início do Século XX. A década de 30, no entando, parece ser a época em que o partido tomou a forma que tem hoje. Em 1931 o Grupo Guarda Velha gravou de Pixinguinha, Donga e João da Baiana os partidos Há! Hu! Lahô! e Conversa de Crioulo. Em 1932, Pixinguinha teve gravado o Samba de Fato, feito em parceria com Cícero de Almeida, ainda com aquele andamento amaxixado dos primeiros sambas, em que dizia: Refrão: “Samba de partido-alto/ Só dá cabrocha que samba de fato”. Versos: Só dá mulato filho de baiana/ E gente rica de Copacabana/ Doutor formado de anel de ouro/ Branca cheirosa de cabelo louro”. Por essa época o samba de partido alto começou a ser cantado nos terreiros de samba como uma espécie de desafio de repentistas. O refrão era cantado em coro pelos presentes e dois ou mais partideiros improvisavam versos. Vencia aquele que superasse os demais nas rimas.  Candeia foi um partideiros dos mais respeitados.

Candeia


Candeia no filme Partido Alto, de Leon Hirszman:

1936 – Samba-de-Breque
Moreira da Silva conta que foi por acidente que o breque apareceu durante show num cinema do subúrbio carioca do Méier, em 1936. “Foi por acaso, como quase todas as descobertas dos cientistas. Eu estava cantando um samba fraquinho e decidi interromper e improvisar umas falas só para brincar com a platéia. O Tancredo Silva me deu um samba de quatro linhas (Jogo Proibido) e eu improvisei em cima: ‘Meto a solingen na garganta do otário e ele geme, ai, ai, meu Deus! Não posso mais. Vou me acabar’. Aí nasceu o breque”. Clássicos do gênero são Acertei no Milhar, de Wilson Batista e Geraldo Pereira (1940) e Na Subida do Morro, de Moreira da Silva e Ribeiro Cunha (1952).

Na Subida Do Morro, com Moreira da Silva:

1939 – Samba-Enredo
O samba de Paulo da Portela, Teste ao Samba, é considerado o primeiro samba-enredo. Até então as escolas cantavam sambas variados, sobre assuntos que nada tinham a ver com as fantasias. O samba de Paulo foi cantado no desfile de sua escola no Carnaval de 1939. Um clássico do gênero, que serviu de parâmetro para muitos compositores, é Aquarela Brasileira, de Silas de Oliveira, samba do Império Serrano em 1964.

Silas de Oliveira


Aquarela Brasileira, de Silas de Oliveira, com Martinho da Vila:

1939 – Samba exaltação
Ary Barroso, com Aquarela do Brasil, inaugurou esse estilo de samba, em 1939. Feito sob a ditadura Vargas, o samba foi gravado por Francisco Alves, o Rei da Voz, e interpretado por Cândido Botelho no musical beneficente Joujoux e Balangandans, patrocinado pela primeira-dama Darcy Vargas. As escolas de samba também criaram o seu samba exaltação, que canta as virtudes da escola. É o exemplo de Um Rio que Passou na Minha Vida, de Paulinho da Viola, que exalta a Portela.

Ari Barroso


Aquarela do Brasil numa animação de Walt Disney com o Pato Donald e Zé Carioca:


1941 – Samba Sincopado

Para estabelecer um marco, meio arbitrariamente, do surgimento do samba sincopado, há quem diga que 1941 é o ano do seu nascimento, com A Mulher que Eu Gosto, de Wilson Batista e Ciro de Souza (que chamava o estilo de samba de telecoteco), grande sucesso na voz de Ciro Monteiro. Outros dizem que é Sinto-me Bem (1941), de Ataulfo Alves. Mas esses sambas estavam mais para o “samba direto” do que para sincopado. Na verdade, faltava-lhes a ênfase na síncope ou síncopa. Falsa Baiana (1944), de Geraldo Pereira, é um exemplar clássico do gênero. A síncopa, que caracteriza o samba, é a execução da nota fora do tempo normal dos compassos. O samba é composto em compasso binário e ritmo sincopado, mas no samba sincopado há, por assim dizer, um exagero da síncopa. O sambista faz isso adiantanto ou prolongando o fraseado em desarmonia com o compasso, faz o que os músicos chamam de contratempo.

Geraldo Pereira


Gal e Gil interpretam Falsa Baiana (Geraldo Pereira), no show Viva Brasil, em Paris (2005):

1956 – Samba de Bloco
A fundação do Bafo da Onça, em 1956, é um marco adequado para o surgimento do samba de bloco, ou samba de embalo. Os blocos de embalo, como o Bafo, são filhos diretos dos blocos de sujo, que eram a forma mais comum de o carioca brincar o Carnaval. Na medida em que alguns desses blocos cresceram e se organizaram, foram se transformando nos maiores agrupamentos da folia de rua. Os blocos cantavam sambas curtos, de fácil apelo, próprios para serem cantados pela multidão, incluindo pessoas que nunca os tinham ouvido antes. Sambas assim já eram cantados no Carnaval, rivalizando com as marchinhas carnavalescas. Com o surgimento dos blocos de embalo e a composição de sambas próprios para o desfile de cada ano, eles se tornaram um novo gênero. Boêmios do Irajá, Cacique de Ramos e Bafo da Onça são os blocos de embalo mais populares, que viveram seu auge nos anos 70. Dois sambas de embalo que marcaram época foram Vou Festejar (Neoci, Dida e Jorge Aragão) e Coisinha do Pai (Jorge Aragão, Almir Guineto e Luiz Carlos), do Cacique de Ramos, que acabaram virando sucesso na voz de Beth Carvalho no final dos anos 70.

Desfile do Cacique de Ramos

Beth Carvalho canta Vou Festejar com o Cacique de Ramos:

1958 – Bossa Nova
Samba que surgiu nas reuniões dos apartamentos da Zona Sul carioca, seu marco oficioso é o lançamento de Chega de Saudade (Tom e Vinicius) na voz de João Gilberto, em 1958. Seu habitat , além do apartamento da classe média carioca, foram as pequenas casas noturnas do Rio, de clima mais intimista. Seus intérpretes são herdeiros de um jeito de cantar que destoa da tradição dos grandes gogós, como Francisco Alves, Vicente Celestino e outros. Sua escola remonta a Mario Reis, passa por Tito Madi, com um jeito de cantar mais leve, de voz pequena, mais intimista. Os músicos da Bosa Nova eram fortemente influenciados pelo jazz, que ouviam loucamente, e pela fossa, pela dor-de-cotovelo, cantada nos sambas-canção, que marcou a música brasileira dos anos 50 e emprestou-lhes seu tom recatado. Há quem afirme que foi a batida de violão de João Gilberto que consolidou a Bossa Nova como um novo estilo musical. O violão de João segura o ritmo com sutis desenhos assimétricos nos acordes. Não à toa ele se deu tão bem cantando sambas sincopados.

João Gilberto e Tom Jobim


João Gilberto canta Chega de Saudade:

1963 – Sambalanço
Tipo de samba surgido nas casas noturnas do Rio e São Paulo, o sambalanço tem como marco a batida apresentada em 1963 por Jorge Ben, com a música Mas Que Nada. Claramente influenciado pelo modo de cantar dos bossanovistas e com uma batida de violão paletada como no rock’n’roll, o novo som se sustentava numa levada de samba leve, com predomínio da vassourinha na bateria ou na timba. Ao longo dos anos 60, o sambalanço foi ganhando consistência e volume, inspirando uma forma de dança de salão que fundia os volteios do rock dos anos 50 com os floreados da gafieira. Virou um sucesso nos bailes negros de São Paulo. O sambalanço passou a ser chamado, também, de samba-rock. Ed Lincoln com sua banda, Elizabeth Vianna, Trio Mocotó, Noriel Vilela são alguns dos nomes dessa fase, além de Jorge Ben, é claro.

Jorge Ben canta Mas que Nada:

1971 – Samba-Jazz
O pianista Dom Salvador correu o mundo tocando com sambistas e jazzistas. Fez uma carreira respeitável como músico, antes de formar a banda Abolição, que em 1971 lançou o disco Som, Sangue e Raça, num estilo que ficou conhecido como samba-jazz.

Don Salvador e Grupo Abolição


Dom Salvador & Banda Abolição, Moeda, Reza e Cor (1971):
1973 – Sambão-Jóia
Egressos da Jovem Guarda, que tinha morrido anos antes, alguns compositores viram no crescente prestígio de sambistas como Martinho da Vila, Clara Nunes, Beth Carvalho e outros, uma saída para sua carreira em declínio. Em 1973, um carioca de Lins de Vasconcelos, Luiz Ayrão, gravou aquele que pode ser citado como o hino do gênero: Porta Aberta. Foi um sucesso estrondoso, que acabou por fixar o gênero assim chamado de modo pejorativo pelos críticos: sambão-jóia. Fizeram parte dessa leva o compositor santista Luiz Américo (Filho da Véia),  o baiano Ciro Aguiar (Do You Like Samba) e o fluminense Benito de Paula (Retalhos de Cetim).

Luiz Ayrão

Luiz Ayrão canta Porta Aberta no programa  Cantares, na TV Câmara (SP):

1976 – Samba-Funk
A fusão da banda de samba-jazz Abolição com o grupo Impacto 8 resultou, em 1977, na Banda Black Rio, que inaugurou o samba-funk e dominou a cena da black music brasileira nos anos seguintes.

Banda Black Rio


Banda Black Rio toca Maria Fumaça, de seu primeiro álbum (1977):

1980 – Pagode
Como toda a família do samba, o pagode já existia em formação, antes de 1980. Mas um marco efetivo do estilo é o surgimento do grupo Fundo de Quintal, na quadra do bloco carnavalesco Cacique de Ramos, no Rio. Dele faziam parte vários compositores e músicos que frequentavam as rodas de samba realizadas nos mais diversos recantos da cidade. Da formação inicial do grupo fizeram parte Almir Guineto (que introduziu o banjo de braço curto no samba), Jorge Aragão, Sombrinha, Arlindo Cruz, Neoci, Cléber Augusto, Sereno, Ubirani (que introduziu o repique de mão) e Bira. O pagode substituiu a marcação do surdo  pelo tantã (espécie de tambor com ouro só de um lado, patido com a mão). Os tambores batidos na mão se justificava por se tratar de um samba de mesa, que necessita de um acompanhamento que não encubra o canto, ao contrário do partido alto, que é um samba de terreiro, e diferente do samba de embalo, que é um samba de desfile, exigindo maior vigor na batucada, sendo o couro castigado com baquetas. Alguns desses sambistas fizeram muito sucesso em carreiras solo, ao deixar a formação original do conjunto. O termo pagode originalmente referia-se a reunião de sambistas e posteriormente aos sambas de meio-de-ano, não carnavalescos. Como subgênero do samba, ele fixou-se a partir do Fundo de Quintal. O maior representante dessa geração é Zeca Pagodinho.

Pagode no Cacique de Ramos

Fundo de Quintal e Dudu Nobre: A Batucada dos Nossos Tantãs e Levada desse Tantã:

1991 – Sambanejo
Sambanejo é a expressão pejorativa que identifica o samba romântico tocado por bandas paulistas nos anos 90. Ficou conhecido como o jeito paulista de tocar o pagode carioca. Seu marco foi o lançamento em 1991 do primeiro disco do conjunto Raça Negra, que entre outras gravou músicas de Roberto Carlos com levada de pagode. Deu origem a dezenas de outras bandas de sambas românticos tocados na linha do pagode carioca. Teclados imitando metais e paletadas de guitarra na base das cordas dão as tintas desse subgênero.

Grupo Raça Negra


Raça Negra canta Sozinho:

1997 – Pagode Universitário
Quando a onda do pagode estourou com Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz e  Almir Guineto, no início dos anos 80, surgiram vários grupos que nada tinham a ver com os terreiros de samba cariocas. Alguns deles com grande sucesso, como os paulistanos Sensação, Art Popular, Katinguelê e o carioca Raça. A partir dos anos 90, o pagode começou a atrair joves da classe média, que passaram a frequentar suas rodas de samba e shows. Não demorou muito para que surgissem bandas de pagode formados por jovens brancos. Alguns desses grupos logo desapareceram, mas outros se firmaram e estão até hoje produzindo sucesso. É o caso do Sorriso Maroto, composto por garotos da Zona Sul carioca (1997), Jeito Moleque, de jovens do bairro de classe média de Santana, em São Paulo (1998) e Inimigos do HP, grupo de universitários paulistanos (1999).

Jeito Moleque



VEJA.COM 02/12/2010

sábado, 2 de maio de 2020

Aldyr Blanc


Morre um grande

Aldyr Blanc (Mendes) faria 74 anos em setembro. Era médico psiquiatra, mas abandonou a profissão pouco depois de se formar e, a partir de 1973, passou a  se dedicar à música, tornando-se um dos maiores letristas da MPB. Sua parceria com João Bosco marcou época com canções como O Bêbado e o Equilibrista, grande sucesso na voz de Elis Regina, que se transformou numa espécie de hino contra a ditadura. A Pimentinha é responsável por outro grande sucesso de Aldyr, o samba O Mestre-Sala dos Mares.  Foi parceiro de nomes como Cesar Costa Filho, Moacyr Luz, Ivan Lins, Guinga, Sueli Costa entre outros.

Sucesso indiscutível de crítica, não poucas vezes o foi também de público. São de sua lavra peças notáveis do cancioneiro nacional tornadas clássicos na voz dos maiores nomes da nossa música. Obras-primas como "Resposta Ao Tempo" (com Cristóvão Bastos) gravada por Nana Caymmi; "Querelas do Brasil" (com Maurício Tapajós l) na voz de Elis Regina), "Amigo É Para Essas Coisas", grande sucesso do grupo MPB-4.
São de sua pena ainda 
“O Rancho da Goiabada", "Corsário", "Bala Com Bala", "Dois Pra Lá, Dois Pra Cá" e "O Ronco da Cuíca" e centenas de outras composições saídas de sus inesgotável fonte de inspiração.

Nascido no bairro carioca do Estácio, berço do samba, Aldyr era um gênio das letras, mas um sujeito simples e afável, dono de um humor cortante, mas que tinha o objetivo de divertir, mais do que ferir. “Sou rigorosamente ateu, cético, cínico e escroto, nessa ordem”, dizia. Contava que sofreu preconceito durante a infância, um branquelo num meio predominantemente negro. Mas acabou se impondo pelo talento e amor ao samba. Vascaíno roxo, era autor do livro "A Cruz do Bacalhau", que escreveu em parceria com o jornalista e historiador José Reinaldo Marques.

Morador da Tijuca, figura adorada pela vizinhança da rua Garibaldi, onde durante muito tempo marcou ponto no Bar da Maria, cujos dotes culinários ele exagerava além da conta, Aldyr vivia no meio do caminho entre o subúrbio e a praia. E tinha amigos em ambos os mundos. Conhecia como poucos tanto as malocagens das quebrada quanto os vícios da Zona Sul. Era um espírito livre, um amante das coisas simples da vida, dos bate-papos de mesa de botequim e esquinas de um Rio de Janeiro que sofre, mas não se acaba.

“Aldir diz que o tijucano está em eterno estado de sítio. Para a turma da Zona Norte, o tijucano é um semi-ipanemense. Já para o pessoal da Zona Sul, é um suburbano”, disse dele o pesquisador Marcelo Sampaio, quando do lançamenti, em 2004, do filme “Aldir Blanc, Dois Pra Lá, Dois Pra Cá”, dirigido por Alexandre Ribeiro de Carvalho, André Sampaio e José Ribeiro de Moraes. 

Aldyr estava internado no Hospital Pedro Ernesto, em Vila Isabel na Zona Norte do Rio de Janeiro, região onde morava. Morreu por complicações da Cobid-19, no dia 4 de maio de 2020.